KAPA’A, HAVAI – Esta ave podia ser qualquer uma entre o milhão de albatrozes-de-laysan que regressam todos os outonos para o Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Atol de Midway, um grupo de três pequenas ilhas formadas a partir de recifes de coral no Pacífico Norte. Aqui, 1.600 quilómetros a norte de Honolulu, inúmeras aves marinhas brancas pontilham os campos das ilhas, cada uma sentada em cima de um ovo do tamanho de uma lata de refrigerante. Tanto os machos como as fêmeas exibem os mesmos olhos manchados em tons de carvão e asas castanhas, que podem ter uma envergadura de até dois metros.
Mas há uma ave que se destaca: Wisdom. Com a anilha vermelha Z333 no tornozelo, Wisdom faz pelo menos 70 anos este ano e é a ave selvagem mais velha de que há conhecimento.
“Fico sempre aliviado quando Wisdom aparece”, diz Jon Plissner, biólogo do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA que estuda a longevidade dos albatrozes em Midway.
Os cientistas conhecem muitos detalhes sobre a vida de Wisdom. Por exemplo, sabem que foi anilhada em 1956 para um projeto de pesquisa de longa duração que, desde o final da década de 1930, já identificou mais de 260.000 albatrozes individuais. E também conhecem o seu local favorito de nidificação e sabem que colocou um ovo no final de novembro passado, como tem feito pelo menos em oito dos últimos onze anos – ovo que eclodiu numa cria no dia 1 de fevereiro. Mas ainda há muitas coisas sobre Wisdom e sobre a sua espécie que os cientistas não sabem, começando pela questão mais óbvia: Quanto tempo vivem?
“Não sabemos realmente”, diz Jon Plissner. “Também não sabemos se esta ave é uma exceção. Provavelmente é apenas a mais velha de que temos conhecimento.”
Sylvia Earle, exploradora da National Geographic, ao lado de Wisdom em Sand Island, parte do Atol de Midway, em janeiro de 2012. Foi pioneira em investigação sobre ecossistemas marinhos.Durante os últimos 15 anos, Jon Plissner e a sua equipa anilharam crias de albatroz-de-laysan e registaram o número de anilhas de albatrozes em nidificação num lote de terreno de 50 por 50 metros, dados que eventualmente irão fornecer mais informações sobre a sua esperança média de vida. O desafio, diz Jon, reside no facto de os albatrozes viverem tanto tempo que podem facilmente viver mais tempo do que os seus investigadores.
Wisdom já fez precisamente isso. Chandler Robbins, o biólogo do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA que a anilhou, morreu em 2017 aos 98 anos.
Uma ave sábia
Também é provável que Wisdom tenha mais de 71 anos; em 1956, estimava-se de forma conservadora que tinha cinco anos, a idade mais precoce com que um albatroz-de-laysan pode atingir a maturidade sexual.
Em 2002, Chandler Robbins regressou a Midway e reparou num albatroz que tinha uma anilha que precisava de ser substituída. Chandler apercebeu-se imediatamente de duas coisas: tinha sido ele a anilhar aquela ave em 1956 e, na altura com 51 anos, Wisdom já tinha quebrado o recorde de longevidade. Naquela época, os biólogos estimavam que o tempo de vida do albatroz–de-laysan rondava os 40 anos.
Devido aos vários anos que passou evitar perigos mortais – como por exemplo tsunamis e tubarões – para além das ameaças mais recentes dos humanos, como o aquecimento dos mares devido às alterações climáticas, poluição por plástico e linhas de pesca, a ave foi denominada Wisdom (Sabedoria).
Desde então, Wisdom tornou-se famosa na internet. No Havai, o albatroz-de-laysan é conhecido por mōlī e ocupa um lugar de destaque na cultura indígena enquanto símbolo do deus Lono, que representa a chuva e a agricultura.
A fama de Wisdom tem chamado a atenção para os perigos que as aves marinhas enfrentam, e para os albatrozes-de-laysan em particular, diz Beth Flint, bióloga do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA em Honolulu.
“É uma ave que tem uma esperança média de vida comparável à de um humano”, diz Beth. “Creio que a sua maior contribuição é o interesse que desperta nas pessoas. Wisdom também está a atrair mais pessoas para as ciências.”
Uma mãe modesta
Todos os outonos, quando os albatrozes-de-laysan regressam a Midway após meses no mar, para começarem a sua época de reprodução, o céu das ilhas passa de relativamente vazio a repleto de aves sobre lagoas turquesa, com as suas longas asas abertas.
Aproximadamente 70% da população mundial de albatrozes-de-laysan, estimada em 1.6 milhões de indivíduos, nidifica em Midway, uma base militar da Segunda Guerra Mundial com cinco quilómetros quadrados que foi transformada em refúgio nacional de vida selvagem. Em 2020, os biólogos contaram cerca de 492.000 ninhos, um ligeiro aumento em relação ao ano anterior.
Cada par de albatrozes-de-laysan cria um ninho em terra com galhos, folhas e areia, num círculo com aproximadamente um metro de diâmetro. Depois de a fêmea colocar um só ovo, ambos partilham os deveres de pais, revezando-se durante dias e semanas para alimentar a cria com uma pasta regurgitada de peixes e lulas.
As crias voam pela primeira vez para o mar a meio do verão, e só regressam a terra passados três a cinco anos. Depois, vão e vêm durante alguns anos, realizando elaboradas danças de cortejo à procura de um parceiro, com quem irão formar um vínculo de longa duração.
Wisdom também já sobreviveu a vários companheiros. A sua personalidade, diz Jon Plissner, é bastante discreta, exatamente o que esperaríamos de uma mãe experiente que já colocou mais de 40 ovos durante a sua vida.
“Ela passa muito tempo a dormir no ninho”, diz Jon. “Temos de colocar um marcador perto dela, porque não se destaca e perde-se no meio da comunidade.”
Preocupações para os albatrozes
Em Midway, uma das preocupações recentes para o albatroz-de-laysan são os ratos invasores, que atacam e ferem os adultos enquanto estes incubam os ovos. Os biólogos do Serviço de Pesca e Vida Selvagem esperam conseguir erradicar os ratos, como fizeram com as ratazanas, mas é uma tarefa complicada.
A poluição também é um problema; os pedaços afiados de plástico, com toneladas a acabarem no Pacífico todos os anos, podem perfurar os intestinos de uma ave e matá-la.
Mas os albatrozes podem ter uma vantagem biológica sobre as outras aves marinhas: a sua dieta é rica em lulas, que têm bicos feitos de quitina, uma substância que Beth Flint chama de “plástico da natureza”. O albatroz consegue regurgitar os bicos das lulas – e os pedaços de plástico.
Contudo, ainda não se sabe quais são os outros efeitos que o plástico pode ter sobre os albatrozes-de-laysan, aves que a União Internacional para a Conservação da Natureza lista como quase em perigo de extinção.
À medida que o Pacífico Norte aquece e se torna mais ácido, estas mudanças também podem afetar as populações de lulas e de outras presas dos albatrozes. É possível que as populações de lulas diminuam ou mudem de região, podendo impactar o abastecimento de comida das aves, diz Beth.
Preencher as lacunas
Para gerir melhor estas ameaças e conservar a espécie a longo prazo, os cientistas precisam de mais dados sobre o albatroz-de-laysan e respetivos comportamentos.
As aves marinhas são fáceis de estudar quando estão em terra – são grandes, fazem os ninhos no chão e não se escondem. Mas sentem-se mais em casa no mar, longe dos olhos indiscretos dos investigadores.
É aí que entram as novas tecnologias. Os biólogos usam agora uma variedade de marcadores com rastreio por satélite que se prendem às penas das aves ou às anilhas que têm nos tornozelos, fornecendo dados específicos sobre as localizações para onde voam.
Estes marcadores revelam que os albatrozes-de-laysan procuram comida muito para além das ilhas havaianas, chegando por vezes a seguir para norte, até às ilhas Aleutas do Alasca, diz Rob Suryan, ecologista marinho que estuda aves marinhas no Centro de Ciência de Pescarias do Alasca, um centro de investigação da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA em Juneau.
“Wisdom é um modelo notável para a conservação de aves marinhas porque podemos aprender as distâncias que percorre para conseguir comida para a sua cria”, diz Rob.
“Alguns marcadores também têm acelerómetros que rastreiam as mecânicas de voo – batidas das asas, velocidade e duração do voo.” Estes dados têm revelado, entre outras coisas, a forma como as aves conseguem voar eficazmente sobre o oceano durante longos períodos de tempo.
“Outra grande incógnita é o que acontece a uma cria de albatroz quando esta voa para longe do ninho”, diz Rob. “Será que, por exemplo, regressa para a mesma colónia dos pais?”
“São dados que podem oferecer uma janela interessante para a vida de aves que sempre me intrigaram.”
Um espetáculo privado de Wisdom?
Rob Suryan não é o único que se sente atraído por albatrozes – pessoas de mais de 190 países sintonizaram a câmara Albatross do Laboratório Cornell de Ornitologia, em Kauai, que esteve ativa entre 2014 e 2018.
“A Wisdom expande os horizontes da nossa imaginação para o que é possível no mundo natural, e há muito mais para descobrir”, diz Charles Eldermire, líder do projeto de câmaras de aves do laboratório Cornell. “E isso oferece-nos mais esperança.”
Enquanto estrela internacional, Wisdom também é a candidata perfeita para ter a sua própria webcam. Infelizmente, Jon Plissner diz que a internet em Midway é terrivelmente lenta. Outra possibilidade seria uma câmara ativada por movimento que, por exemplo, podia ser programada para tirar uma fotografia ou registar um vídeo curto a cada 15 minutos.
“Essa ideia está sempre a vir ao de cima”, diz Jon. “Acho que vamos falar sobre isso durante este ano.” Resumindo, é mais uma razão para torcermos pela longevidade contínua de Wisdom.
Fonte: National Geograph
Que animal incrível!
Luz pra nós!
demais, riqueza de vida!
Essa é bem antiga rsrs!
Bom exemplo do Reino Animal.
Luz p’ra nós!
gracinha demais!
Interessante.
Luz p’ra nós 🙏🏻🕊
Incrível! Luz p’ra nós!
Luz pra nós!
Luz para nós!!
#LuzPraNos
Luz p’ra nós
Tão fofa 💗
Luz p’ra nós!
Luz p´ra nós!
Eitaa , aí sim em 👏✅
Saúde e longevidade 🙏
Gratidão por compartilhar
Luz p’ra nós 🙏⚛️💥⚠️✅💥