Inovadores por necessidade, defensores da erva usam a criatividade para fazer avançar suas pautas
Por Ricardo Amorim Atualizado em 12 out 2022, 15h00 – Publicado em 12 out 2022, 14h23
Ao longo dos processos de regulamentação e legalização da cannabis ao redor do mundo, dois argumentos têm sido preponderantes para a mudança de percepção da sociedade a respeito da planta: o medicinal e o econômico. Em que pese a urgência de combater a discriminação racial, a violência e a corrupção entranhadas na infame guerra às drogas, é através da saúde e dos negócios que a pauta da cannabis vem abrindo espaços. É claro que, com a evolução do mercado, as dimensões social e de segurança pública acabam também avançando, o que naturalmente é positivo. Nesse sentido, o ativista de outrora, historicamente associado ao falso estereótipo do “maconheiro desleixado”, deu lugar aos chamados empreendedores canábicos. São militantes da causa que recorrem à criatividade e ao poder das redes sociais para defender a legalização da cannabis no Brasil.
Dois eventos recentes em São Paulo me trouxeram a essa reflexão: uma festa organizada pela Nowdays, plataforma de conteúdo criada no ano passado pela brasileira Thainá Zanholo, e o Festival Híbrido, espaço da chamada economia criativa que reuniu diversas marcas relacionadas ao universo da erva, do medicinal ao uso adulto. Nas duas oportunidades, foi possível observar um mercado em pleno amadurecimento, mesmo diante da proibição ainda vigente no país. Com bom gosto, inovação e também, claro, questionamentos e provocações, Thainá e os responsáveis pelo Híbrido mostraram como pode ser sofisticada a defesa de uma política de drogas mais racional. Um dos destaques da programação foi justamente o filme lançado pela Nowdays que debocha de leis absurdas em várias partes do mundo para chamar a atenção para a insensatez da legislação que proíbe a cannabis. Em “Leis Questionáveis”, filme muitíssimo bem produzido pela MyMama Entertainment com conceito criativo da renomada agência AKQA, responsável pela publicidade de marcas como Google, Sony, Volvo e Nike, descobrimos que chicletes são proibidos em Singapura e que é ilegal dirigir vendado no Alabama (veja o vídeo completo neste link).
A irreverência associada ao mercado da planta também foi destaque no Festival Híbrido, onde o público pôde encontrar produtos como bombons de chocolate em forma de flores de cannabis, produzidos pela Croc Buds com terpenos (aromas naturais da erva), também presentes nas cervejas da Sadhu Beer, da marca de papéis para cigarros de mesmo nome. Em comum, os eventos apresentaram outros caminhos para o ativismo canábico, em que a combinação dos negócios com a pauta anti-proibicionista está fazendo florescer no Brasil um novo contexto em torno da cannabis. Assim como aconteceu com o estilo “surfwear” nos anos 1970 e 1980, quando não apenas surfistas aderiram às bermudas de nylon e às camisetas coloridas, esse movimento tem sido capaz de atrair os não convertidos e até alguns antigos detratores. Para além da saúde, dos negócios e do debate político, o ativismo canábico está se reinventando para se consolidar, mais uma vez, como uma verdadeira revolução cultural, agora com a roupagem – e as ferramentas – do século XXI.
Font Veja
Escola de Lúcifer
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