Diversos equipamentos têm sido desenvolvidos para melhorar a qualidade de vida de pessoas com funções motoras comprometidas. Geralmente, essas soluções envolvem cirurgias de cérebro aberto para serem implantadas. Recentemente, no entanto, foi desenvolvido um dispositivo capaz de ler a atividade cerebral sem intervenção cirúrgica para sua implantação.
Criado pela Synchron, o dispositivo se chama Stentrode e pode registrar a atividade cerebral a partir de um vaso sanguíneo próximo à jugular. O artigo que descreve seu desenvolvimento foi publicado esta semana na revista JAMA Neurology, mas os primeiros resultados já haviam sido apresentados na 74ª Reunião Anual da Academia Americana de Neurologia em Seattle, em março de 2022.
No estudo, quatro homens de ascendência europeia usaram o dispositivo para enviar mensagens pelo celular, mandar e-mails, realizar compras on-line e transações bancárias. Eles são pacientes com esclerose lateral amiotrófica (ALS), uma doença que mata as células nervosas responsáveis por controlar o movimento voluntário, e todos tinham paralisia grave dos membros superiores e graus variados de função pulmonar e comprometimento da fala em razão da doença.
Testes anteriores com o Stentrode já haviam sido realizados em animais. No primeiro ensaio clínico em pessoas, os pesquisadores demonstraram que o dispositivo registra impulsos cerebrais e estimulam eletricamente o cérebro.
Implantação do dispositivo de monitoramento cerebral
O Stentrode não exige abertura de crânio para ser implantado. Ele é pequeno e se assemelha a uma rede, contendo16 eletrodos. Os quatro pacientes que participaram do ensaio tiveram o dispositivo inserido através de um catéter no seio sagital superior, uma veia cerebral. A veia fica próximo ao córtex motor, área do cérebro responsável pela atividade motora voluntária, e drena fluidos do cérebro para jugular.
Quando o aparato chega ao seio sagital superior, os médicos expandem a malha de eletrodos, que se fixam as paredes do local. Um fio liga esses eletrodos a um dispositivo no peito, que transmite para um computador a atividade cerebral registrada. A comunicação entre o dispositivo no peito e o computador é feita sem fios.
Nenhum dos pacientes participantes do ensaio clínico apresentou efeitos colaterais graves, apenas hematomas na região de incisão e dor de cabeça. Após um ano de observação dos pacientes, não foram notados coágulos, obstrução dos vasos sanguíneos ou deslocamento do Stentrode. Além disso, eles conseguiram controlar bem o computador ao qual o dispositivo é conectado.
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