Entre a carência e a Honra

Este texto contém perspectivas pessoais, mesmo assim achei sua publicação válida.

Todos nós desejamos nosso lugar ao sol, e uma pessoa que amo muito e que possui grande sabedoria me disse uma vez que quem nega suas carências é o primeiro que deve reavaliar sobre a  questão.

Como servos de Deus, somos convidados a lidar com essas carências dentro do amor e da honra. Afinal, o amor a Deus sobre todas as coisas deve prevalecer sobre nossas necessidades particulares. Mesmo que os momentos nos ceguem e pareça mais oportuno buscar alívio imediato, a honra deve prevalecer. Embora o caminho possa parecer nebuloso, estamos sendo testados. A divindade em você merece respeito, assim como a divindade no próximo.

Vale a pena gravar momentos na sua memória eterna por causa de uma carência momentânea ou desejo. Quem é este você que a Kundalini não precisa se esforçar para trazer à tona? Esse binário corrompido em que vivemos não pode falar mais alto que a trindade. É claro que ele impacta, e as vibrações negativas sempre se manifestarão enquanto a realidade estiver do avesso. O Espírito Santo, que nos criou, sofre com nossa entrega aos alívios assimétricos, que se contrapõem à misericordiosa liberdade que Deus nos ofereceu. As almas luciferianas são aquelas que lidam com o abstrato da liberdade, mas isso não diminui o valor da segurança e da lógica judaizante, não que os mesmos as pratiquem.

Há um discernimento claro na consciência sobre o certo e o errado. A dualidade deixa óbvio que é impossível fazer mal ao outro sem fazer mal a si mesmo. Para que as relações se desenvolvam, não se pode fazer com que o outro ame menos a Deus e à vida, caso contrário serão geradas sombras difíceis de dissipar. Isso inclui lidar com os abstratos, o “elefante na sala”, e reconhecer a forma como o círculo e a reta existem ou não em você. Seus traumas e sonhos o constituem, mas também podem desintegrá-lo. O bem-estar consigo mesmo vem desse mergulho interior, do transbordar de sua própria essência, respaldado pela humildade e pela verdade. No ato de reconhecer suas próprias falhas, Deus se sente amado e lembrado. Nunca é tarde para se arrepender e mostrar uma vida mais bela a Ele.

Nesse desdobramento infinito da carência, a maior carência de todas pode ser preenchida com a verdade que nos foi carimbada na alma: que a vida e o reino eterno estão reservados para aqueles que, por Deus, souberem se sustentar. Afinal, na vida e na morte, foi Ele quem esteve lá, segurando sua mão e sentindo toda a sua dor. Às vezes queremos ser amados, reconhecidos, valorizados por alguém específico, como se daí viesse a própria salvação. É claro que isso é difícil, e Deus está bem ciente dessa dor. Sentir-se só dói, sentir-se incompreendido dói, reconhecer que talvez não sejamos tão bons quanto imaginamos pode doer ainda mais. Talvez mereçamos essas dores e Deus não mereça dor alguma. Imagine um pai que se permite ser machucado para que seu filho possa ser livre. Será que esse pai não se alegraria ao receber mais amor do que a própria liberdade? O que vale mais, o presente ou quem o presenteia?

Deus está mais preocupado com o que você faz a partir do momento em que pode fazer o que quiser. Se, mesmo assim, você se mantém firme em suas escolhas e permanece fiel à sua missão, os alívios que restarem são a misericórdia divina. Se, para que o plano de Deus se cumpra, o preço for a solidão, que assim seja. O que é a solidão passageira perto da morte ou da vida eterna? E quando acompanhado, ame e honre a vida e a alma de quem o acompanha, para que ambos se elevem.

No poema “Recaídas”, do livro “Lilith” de Mestre Bob Navarro, há um verso que nos faz refletir sobre essa temática:

“Mas que a Vida nunca mate aquele que rega com a

Verdade a sua Solidão.”

Ao sobrevoar todos esses momentos, talvez reencontremos nossas partes, ajudando-as a alcançar a coerência e a verdade, sendo testemunhos vivos que as direcionam. Assim, abrimos espaço para que o amor coexista com a honra. Estamos, então, formando uma nação da qual Deus se orgulhe de sua concepção, pois as almas que aqui se encontram são capazes de tão ousado sonho e Deus merece isso.