Evangélicos viram ativista da maconha: “erva abençoada”

‘Semente do Amanhã’ é a primeira associação de pacientes canábicos feita por mulheres evangélicas

Ana Marta Barbosa Nery, 49, é membra da Assembleia de Deus e cresceu ouvindo histórias traumáticas e que “maconha é coisa do diabo e de gente que não presta”.

Porém essas travas se desfizeram depois dela ver o poder da cura da santa Maria agindo no seu filho autista, Matheus, 8, que usa óleo canábico em seu tratamento. A mulher conta:

Um dia, a polícia invadiu a casa de uma mãe evangélica na comunidade. Um dos filhos dela tinha enterrado maconha no quintal. Ela preferiu dizer que a droga era dela para poupar o filho, ficou dois anos presa no lugar dele.

Como digo para essa mulher que maconha faz bem?.

Ana que passava noites em claro com o filho, não saia dos hospitais do RJ, tentou e tentou tratamentos ineficazes, hoje vê Matheus comendo sozinho, indo ao banheiro, interagir com o coletivo, constatar emoções… Ela brinca:

Agora, ele entende até quando faço cara de brava e para com a bagunça.

Nos EUA, 76% dos pastores se posicionaram contra legalização da maconha. No Brasil o coletivo evangélica ainda é um dos principais opositores da erva, mas isso vem mudando nos últimos tempos.

CBD egregorado

A paulista Andréia Rodrigues, 45, teve um desdobramento com a cannabis. Quando iniciou o tratamento das filhas, ela levantou o vidro do óleo para o céu, orando p’ra Deus abençoa-lo.

Em 15 minutos, Isabela e Isadora dormiam tranquilamente, após a mãe passar madrugadas no hospital contendo as crises de epilepsia das gêmeas. Andreia disse:

Elas tiveram paralisia cerebral por erro médico. A partir do óleo, a vida delas começou de verdade.

Seu processo começou quando ouviu falar de um Curso de Cannabis Medicinal da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Chegando lá e se vendo ao lado de maconheiros e de um padre a mulher se sentiu mal.

Mas não focou na sensação e lembrou-se de um pedido especial que fez a Deus numa oração com o marido dentro do carro, em mais uma madrugada sem dormir no estacionamento do hospital. Ela relata:

Pensamos: e agora? Foram cinco anos de suplício, as meninas com até cem crises diárias. Nada resolvia

Fizemos um firmamento e pedi que o Senhor desse discernimento para encontrar uma solução para tamanho sofrimento. Na primeira vez na paróquia da zona leste, sentiu que a prece estava sendo atendida.

Andréia fez vários cursos e se formou como terapeuta canábica. Hoje, fala benefícios da cannabis medicinal p’ra outras mães. Além isso “converteu” o pai, militar aposentado e membro conservador da Igreja Congregação do Brasil, ao óleo canábico.

Com Parkinson, num estágio pesado. Andreia mostrou a transformação das filhas. Com o tempo, a maconha deixou de ser um palavrão na casa dele. A única ‘bronca’ que o ex-militar dá agora é quando a filha:

Está terminando o óleozinho da alegria

Semente do Amanhã

Andréia é secretária da Semente do Amanhã, a primeira associação de pacientes canábicos fundada por evangélicas. Alinhada a ela está Eunice Silva, 62.

Eunice tem uma neta chamada Estela, 18, cujas convulsões foram acalmadas com o óleo canábico. Antes, Estela só dormia com as pernas entrelaçadas de Eunice, p’ra não deixar a menina o agredir na noite. Ela afirma:

Descobri a cannabis lá na paróquia do Padre Ticão [a Ermelino Matarazzo, na zona leste de São Paulo] e parei com todos os medicamentos. Ela virou uma nova criança.

Por conta de comentários do coletivo de sua antiga igreja as irmãs saíram de lá, e sintonizaram outras, Leão de Davi, Bola de Neve e Assembleia de Deus, que não censuraram o uso para elas.