O Veneno do Escorpião e o Câncer de Mama: Uma Descoberta Promissora?

Tarsila Pavão Junho 17, 2025 2 min read

Imagine um veneno mortal que, em vez de causar dor, possa salvar vidas. Parece coisa de ficção científica, mas essa é a proposta por trás de uma pesquisa brasileira que está ganhando destaque no mundo todo: cientistas descobriram que o veneno de um escorpião da Amazônia pode matar células do câncer de mama em laboratório.

O escorpião que virou esperança

A descoberta vem da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP), onde pesquisadores analisaram o veneno do Brotheas amazonicus, um escorpião encontrado na região amazônica. O que eles encontraram foi uma molécula com capacidade de destruir células cancerígenas, especialmente de câncer de mama, sem afetar tanto as células saudáveis. Isso é importante porque os tratamentos convencionais, como a quimioterapia, ainda causam muitos efeitos colaterais justamente por atacarem células boas e ruins.

Como o veneno age?

As toxinas presentes no veneno parecem interferir diretamente no funcionamento das células tumorais. Elas podem:

Induzir apoptose (morte celular programada, algo como um “suicídio” celular);
Bloquear canais iônicos, que são como portões de energia que mantêm as células funcionando;
Evitar a multiplicação descontrolada das células cancerosas.

Esses mecanismos já foram observados em culturas de células (em laboratório) e também em experimentos com camundongos.

Mas ainda é só o começo:

Apesar dos resultados animadores, é importante lembrar que tudo isso ainda está no campo experimental. Ou seja, até agora, os testes foram feitos apenas em laboratório e em animais. Portanto, ainda não existe um medicamento feito com veneno de escorpião disponível no mercado.

Um novo capítulo na medicina natural?

A ideia de usar venenos como remédio não é nova. Há estudos semelhantes com toxinas de cobras, aranhas e até de sapos, sempre com o mesmo objetivo: transformar o perigoso em poderoso. A diferença é que, com o avanço da biotecnologia, hoje é possível isolar apenas as moléculas benéficas e reproduzi-las em laboratório, sem precisar extrair grandes quantidades de veneno da natureza.

Essa linha de pesquisa faz parte da chamada bioprospecção, que busca medicamentos a partir da biodiversidade. O Brasil, com sua rica fauna e flora, pode ser um dos grandes protagonistas dessa revolução.