A notícia de que a oposição reuniu no Senado as 27 rubricas necessárias para inaugurar uma nova CPI provocou pânico no Planalto. Bolsonaro farejou na iniciativa uma manobra para jogar no ventilador de sua campanha à reeleição o melado que escorre do Ministério da Educação. Liberou Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil, para deflagrar uma “operação abafa”. Em pleno final de semana, o governo se mexe para extrair assinaturas do requerimento de CPI empinado pelo senador Randolfe Rodrigues, um dos coordenadores do comitê de campanha de Lula.
Ao levantar os tapetes do MEC, a imprensa demonstrou que a expressão “guerra cultural” virou uma espécie de abracadabra para a caverna de Ali-Babá em que se converteu a pasta da Educação. Juntaram-se raposas sob a pele de pastores, abutres do centrão e roedores de toda espécie. E anotaram na tabuleta da porta: FNDE, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Trata-se de um cofre de R$ 55 bilhões. Deu em cobrança de propinas de prefeitos, licitação superfaturada de ônibus escolares, compra de kits de robótica para escolas que não dispõem nem de água encanada, o diabo.
Bolsonaro mal se refez do desgaste produzido pela CPI da Covid e seus operadores já estão em campo novamente, esgrimindo a tese da inconveniência de uma nova CPI. A Comissão Parlamentar de Inquérito seria inconveniente porque atrapalharia o projeto de reeleição do presidente, forneceria carniça aos urubus da imprensa, travaria a votação de projetos importantes, levaria insegurança ao mercado financeiro; e politizaria investigações que o TCU, a CGU e a PF já estão realizando.
Um presidente que finge desconhecer os pastores que enviou ao MEC, diz colocar “a cara no fogo” pelo ministro que demitiria na semana seguinte, jura não ter “nada a ver” com as verbas públicas que saem pelo ladrão ou é um cínico ou é um tolo. Em nenhuma hipótese será o Bolsonaro que se vende ao eleitorado como chefe de um governo que está há “três anos e três meses sem corrupção.” A contradição só aumenta a inconveniência.
Considerando-se as fotos em que os pastores da propina fazem pose ao lado de Bolsonaro, a gravação na qual o então ministro Milton Ribeiro diz que abriu as portas do MEC para os irmãos evangélicos graças a um “pedido especial” do presidente, o aval do Planalto para a entrega dos cofres da Educação a prepostos do PP de Ciro Nogueira e Arthur Lira e ao PL de Valdemar Costa Neto… Considerando-se tudo isso, fica claro que o objetivo de Bolsonaro não é apenas o de abafar a CPI. O capitão deseja mesmo é desobrigar o Brasil de fazer sentido.
Bolsonaro não receia as consequências criminais de uma investigação parlamentar. A blindagem que o procurador-geral Augusto Aras fornece aos encrencados na CPI da Covid funciona como ansiolítico. O que incomoda o presidente é a perspectiva de que o melado do MEC escorra sobre a campanha presidencial num instante em que seus índices melhoram nas pesquisas. A dimensão do pânico de Bolsonaro é proporcional ao tamanho do apodrecimento do Ministério da Educação.
Fonte: Uol
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