Estudos recentes indicam que o planeta Vênus, frequentemente considerado o “gêmeo malvado” da Terra devido às suas condições extremas, pode ter tido uma atividade tectônica intensa no passado, parecida à que formou os primeiros continentes terrestres.
Hoje em dia, Vênus é um planeta hostil, com temperaturas que ultrapassam os 460ºC e uma pressão de superfície esmagadora. Diferente da Terra, que possui placas tectônicas ativas que moldam sua crosta, Vênus parece ter uma litosfera “parada”, ou seja, uma única placa com movimentos mínimos.
No entanto, características geológicas como falhas, dobras e vulcões sugerem que, em épocas passadas, o planeta pode ter sido tectonicamente ativo.
Representação artística da superfície hostil de Vênus elaborada com elementos fornecidos pela NASA. Crédito: Artsiom P – Shutterstock
Uma equipe de estudiosos liderada por Fabio Capitanio, da Universidade Monash, na Austrália, focou seus estudos nos chamados “tesselas”, impressionantes planaltos achados na superfície de Vênus – cujos resultados foram publicados em agosto desse ano na revista Nature Geoscience.
Esses planaltos, que se assemelham aos primeiros continentes da Terra, indicam que o planeta pode ter experimentado uma tectônica ativa bilhões de anos atrás. “Ficamos surpresos ao descobrir que Vênus, com sua superfície escaldante e falta de placas tectônicas, apresenta características geológicas tão complexas”, disse Capitanio, em um comunicado.
Região em Vênus com crosta espessa lembra a superfície da Terra
A teoria das placas tectônicas, amplamente aceita para a Terra, postula que a crosta rígida do planeta é composta por grandes placas que se movem, colidem e se afastam, moldando a superfície.
Contudo, até agora, essa dinâmica só foi observada por aqui. Em Vênus, muitos estudiosos acreditam que o planeta passou de uma fase inicial de movimento tectônico limitado para o atual estado de litosfera “parada”.
Os estudiosos analisaram formações conhecidas como terras altas de Ishtar Terra, uma região de Vênus que desafia a atual compreensão da geologia planetária.
Com altitudes que superam as dos Himalaias, as terras altas de Ishtar Terra possuem uma crosta espessa, similar à dos crátons no nosso planeta – regiões antigas e estáveis do interior de continentes.
A equipe utilizou modelagem computacional e dados da sonda espacial Magellan, da NASA, que em 1990 mapeou toda a superfície de Vênus, para pesquisar os mecanismos que poderiam ter levado à formação dessas terras altas.
Por meio dessa análise, os estudiosos concluíram que as elevações podem ter se formado por um processo no qual a superfície de Vênus se afinou e derreteu, criando áreas elevadas à medida que a rocha derretida subia.
Com o tempo, esse processo teria resultado no resfriamento e na formação de planícies altas cercadas por cinturões dobrados, semelhante à formação dos crátons na Terra primitiva.
Um modelo de elevação do vulcão Idunn Mons, localizado em Imdr Regio em Vênus, criado com dados da sonda espacial Magellan. Créditos: NASA / JPL-Caltech / ESA
Essas descobertas indicam que Vênus e Terra podem ter compartilhado processos geológicos parecidos em suas histórias iniciais. “As características que achamos em Vênus são surpreendentemente similares aos primeiros continentes da Terra, sugerindo que a dinâmica do passado de Vênus pode ter sido mais parecida com a da Terra do que imaginávamos”, disse Capitanio.
O estudo abre caminho para futuras missões a Vênus, como DAVINCI, VERITAS e EnVision, que prometem revelar mais sobre a história geológica do planeta e suas possíveis conexões com a Terra. “Estudar essas formações em Vênus pode nos ajudar a desvendar os segredos do início da história terrestre”, concluiu o líder do estudo.
Fonte: olhardigital.com.br
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