Com mais de 3 milhões de atendimentos prestados à população ao longo de sua história, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Belo Horizonte completou 20 anos em outubro. As gerações mais jovens talvez não tenham dimensão, mas, quem acompanhou essa trajetória de perto não hesita em afirmar que o Samu revolucionou o atendimento de urgência no município.
Ao todo, são 1050 profissionais na capital mineira, entre eles médicos, técnicos de enfermagem, enfermeiros, teledigifonistas e condutores. São esses trabalhadores que permitem uma diversidade de atendimentos de urgência, que vão desde necessidades traumáticas e clínicas, até chamados motivados por demandas psiquiátricas e obstétricas.
O gerente do Samu de Belo Horizonte Roger Lage destaca que, para ele, o serviço expressa de forma integral o princípio de universalidade do Sistema Único de Saúde (SUS), ao permitir que os moradores da capital mineira realizem de forma gratuita e a qualquer momento o seu direito de acesso à saúde pública.
“Então, a importância do Samu reside na possibilidade de ter acesso a um serviço público, integralmente, 24 horas por dia, e em qualquer ponto da cidade. Diferente de outros serviços, o Samu vai até o cidadão e faz isso de forma universal. É no Samu que o princípio da universalidade do SUS é aplicado 100% das vezes”, complementa.
Desafios
Roger acredita que para que esse serviço siga avançando é preciso superar alguns desafios. O primeiro deles é a crescente demanda por atendimento. Ele explica que, ainda que a população de Belo Horizonte não tenha apresentado crescimento relevante no último período, a cada dia aumenta mais a quantidade de usuários que buscam o Samu.
“A atual portaria do Ministério da Saúde que rege o nosso serviço faz com que o número de ambulâncias seja proporcional à quantidade de habitantes. Por isso, nós não conseguimos ampliar a nossa frota de forma contínua”, relata.
“Uma cidade com transporte público precário faz com que as pessoas circulem muito de carros e motocicletas. São pessoas que andam no trânsito pesado, como o do Anel Rodoviário. Então, nós temos muitas demandas de traumas graves”, explica.
O gerente do Samu de Belo Horizonte também chama atenção para a necessidade de valorizar o trabalho desenvolvido e os trabalhadores que atuam no serviço.
“Nosso desafio também passa pela valorização. Então, os trabalhadores da enfermagem, os teledigifonistas, os médicos e os outros precisam ter formação contínua, capacitação e educação continuada e valorização profissional, para que eles levem um atendimento de qualidade para cada usuário”, enfatiza Roger.
Contratos temporários e salários baixos
O vereador de Belo Horizonte Bruno Pedralva (PT) destaca que, no município, a rede de atendimento do Samu é robusta, o que se comprovou, por exemplo, na atuação do serviço durante o combate à pandemia da covid-19. Ainda assim, ele acha que é preciso avançar na efetivação dos profissionais e oferecer salários que sejam mais condizentes com o trabalho desempenhado por eles.
“Nosso Samu é uma rede robusta, que foi muito importante durante a pandemia, deixando claro o seu papel. A gente tem uma série de desafios. Eu diria que o primeiro deles é garantir equipes de resgate que sejam de profissionais efetivos, da carreira da prefeitura. Em função das precárias condições de trabalho, muitas vezes são profissionais contratados temporariamente”, avalia Bruno Pedralva, que também é médico de família e comunidade.
“Isso muitas vezes prejudica a qualidade do atendimento. A equipe vai se formando, mas, com o tempo, infelizmente, como são contratos temporários, às vezes as pessoas acabam não ficando. Além disso, os salários são muito baixos, fazendo com que muitos profissionais deixem a nossa rede, em função dessa situação”, complementa o vereador.
Como funciona o atendimento?
Desde o momento em que o cidadão liga para o número 192 e pede ajuda, existe uma equipe preparada para avaliar qual é o melhor atendimento para cada caso. O primeiro contato é feito com o teledigifonista, que recebe os dados do usuário, como o endereço no qual ele se encontra.
Logo em seguida, as informações são encaminhadas para o médico da equipe, que conversa com o paciente, com o objetivo de identificar se existem síndromes clínicas ou traumáticas que possam colocar sua vida em risco. Com esse diálogo, o profissional avalia se é necessária uma ambulância de suporte avançado, uma de suporte básico ou apenas uma orientação médica.
Ao mesmo tempo, na central do Samu de BH, também estão enfermeiros e técnicos de enfermagem que coordenam e apoiam o trabalho dos profissionais que atuam diretamente nas ambulâncias.
Atualmente, na capital mineira, o serviço conta com 21 ambulâncias de suporte básico (USB) e seis ambulâncias de suporte avançado (USA). O município também possui 27 bases descentralizadas, localizadas nas nove regionais de Belo Horizonte.
A técnica de enfermagem e coordenadora do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte (Sindibel) Graça Rosa,reafirma a importância do trabalho desenvolvido pelo Samu.
“É um serviço completamente SUS, por isso a importância dele para a cidade. Além disso, é um serviço que leva para as pessoas a saúde, quando não há como se transportar para hospitais. Alguns atendimentos servem para orientar as pessoas, por exemplo, em situações de engasgo ou parto, quando não há tempo hábil de deslocamento”, destaca.
Como era antes?
O serviço foi implementado em Belo Horizonte em 2003, no mesmo ano em que o governo federal criou o Plano Nacional de Atenção às Urgências, que teve como um dos produtos o Samu. Antes disso, desde 1994, o município atuava a partir de uma parceria com o Corpo de Bombeiros Militares, que prestava um atendimento mais pontual e com menos ambulâncias às vítimas, por não se tratar do foco de atuação da corporação.
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