Concetta Antico é uma pessoa especial. Por sofrer de uma mutação genética, a australiana é capaz de enxergar 100 vezes mais cores do que um ser humano comum. O nome dessa condição é tetracromatismo – basicamente, ela tem mais receptores de cores em seus olhos.
Para descrever uma folha, Antico diz: “É como um mosaico de cores. Na borda consigo ver laranja, vejo também um pouco de roxo e vermelho na região sombreada. Talvez você consiga ver verde escuro, mas eu noto violeta, turquesa e até azul”. Sua diferença para o resto das pessoas está nas células cone; já que possui quatro na região dos olhos, enquanto pessoas sem a mutação possuem três(pode perceber nuances de cores que outras pessoas não conseguem ver, como variações muito sutis de tons entre o vermelho e o verde, por exemplo.).
Essa célula é conhecida por absorver as ondas particulares de luz e transmiti-las ao cérebro. Uma pessoa comum consegue enxergar cerca de um milhão de cores, já no caso do tetracromata estima-se que esse número chegue aos 100 milhões. “É chocante para mim o quão pouco as pessoas podem ver”, diz Antico.
Por anos, pesquisadores não conseguiram definir a existência dessa condição genética. Mas com o tempo chegaram ao diagnóstico da mutação, como: a gigantesca maioria dos casos acontece com mulheres, por se tratar de uma alteração no cromossomo X. E esse é o caso da artista australiana.
Acredita-se que 1% da população mundial seja tetracromata, porém esse não é um diagnóstico fácil. De acordo com Kimberly Jameson, especialista que cuida do caso desde 2012, “a diferença entre um tetracromata e uma pessoa normal não é tão drástica como a de um daltônico para a visão comum”.
No caso da população sem tetracromatismo, existem três cores que dominam o espectro de visão da retina: vermelho, verde e azul. Já no caso de Antico, as pesquisadoras acreditam que está mais na linha de um “avermelhado, alaranjado e amarelo; mas ainda completamente incertos”.
“Se você possui uma célula cone extra na retina, isso complica a formação de sinal ao cérebro. Nós queremos saber como isso funciona”, diz Jameson. Os cientistas acreditam que essa mutação pode ser aperfeiçoada a partir da passagem de tempo. O nome científico dessa evolução é neuroplasticidade, com diz a cientista: “Uma possibilidade é que o sistema aprenda a usar esses sinais. A conexão cria seu próprio código na região do córtex”.
Mas apesar de existirem outras tantas pessoas no mundo com a mutação, poucas possuem essa excepcional percepção das cores, pois não treinaram seus cérebros para prestar atenção. No caso de Antico, há um significado para isso: “Eu era diferente de uma criança normal. Aos sete anos já pintava e era fascinada por cores”. Além disso, a artista possui um motivo especial para tentar entender a mutação: sua filha sofre de daltonismo. “Eu não achava que tinha alguma relação comigo. Mas ela é daltônica por minha causa”, conta Antico.
A cientista conta que a ajuda da pintora é essencial: “Se nós conseguirmos entender o potencial genético do tetracromatismo, nós poderemos compreender muitas coisas ainda não desvendadas sobre processamento visual”.
Além de colaborar com as pesquisadoras, a mulher espera abrir uma escola de arte para daltônicos, e também uma plataforma online para ajudar tetracromatas. “Eu quero me certificar de que, antes de morrer, vou ajudar a definir o tetracromatismo. Há muitos por aí e quero ajudá-los a encontrar um caminho”, finaliza a pintora.
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