Fungos radiotróficos encontrados em Chernobyl

Na madrugada de 26 de abril de 1986, o mundo foi abalado pela notícia do desastre de Chernobyl, quando um reator de urânio-235 da Usina V. I. Lenin, na então União Soviética, explodiu. Este evento se tornou o maior acidente nuclear da história. A cidade ucraniana de Pripyat e seus arredores foram evacuados; até hoje, a região permanece como uma área fantasma, ainda emana altos níveis de radiação.

Contudo, Chernobyl não está completamente desprovida de vida. Nas ruínas da antiga usina, cientistas já registraram cerca de 200 espécies de 98 gêneros de fungos especiais, que conseguem suportar o ambiente extremamente radioativo. Alguns desses fungos, particularmente resistentes, são capazes de se alimentar da radiação presente nesse ambiente. Esses organismos são conhecidos como fungos radiotróficos ou fungos negros — essa denominação se deve à presença do pigmento melanina, que também escurece a pele humana, oferecendo uma proteção contra a radiação ultravioleta. Por meio dessa proteína, eles realizam um processo denominado radiossíntese, no qual a radiação gama do ambiente é convertida em energia química, fornecendo o alimento essencial para seu metabolismo.

Esse mecanismo assemelha-se à fotossíntese realizada pelas plantas, com a diferença de que a fonte de energia não é a luz solar, mas sim ondas eletromagnéticas de altas frequências emitidas por átomos radioativos durante sua transição para estados mais estáveis.

Os fungos crescem mais rapidamente na presença de radiação, além de direcionar suas hifas e esporos em direção à fonte de radiação, similar à maneira como vegetais buscam a luz solar. A capacidade dos fungos radiotróficos em lidar com a radiação tem atraído a atenção da comunidade científica, que vê nestes organismos soluções biológicas para desafios enfrentados na física e na engenharia. As propriedades dessas espécies poderiam contribuir para o desenvolvimento de novas tecnologias, tais como:

1. Auxílio a pessoas expostas à radiação, incluindo pacientes em tratamento de radioterapia e profissionais que atuam em usinas nucleares.

2. Criação de suprimentos biológicos de energia, através da conversão de radiação em diferentes moléculas.

3. Desenvolvimento de escudos biológicos para proteção contra radiação, especialmente no espaço.

O último uso já foi testado em algumas ocasiões na Estação Espacial Internacional (ISS). É importante lembrar que, na ausência da proteção atmosférica, os astronautas ficam expostos a altos níveis de radiação espacial, o que representa um desafio significativo para a colonização de corpos celestes como a Lua ou Marte.

Em 2016, oito espécies de fungos coletadas em Chernobyl foram enviadas para a ISS para verificar sua sobrevivência em ambiente espacial; a resposta foi positiva. Em 2018, dois estudantes do ensino fundamental venceram um concurso de inovação e enviaram uma placa de Petri contendo o fungo *Cladosporium sphaerospermum* para a ISS. Embora a camada de fungos fosse relativamente fina, com menos de 2 mm de espessura, ela bloqueou cerca de 2% da radiação incidente. Além disso, os fungos cresceram a uma taxa 21% mais rápida, tornando-se ainda mais eficazes em sua função de absorção de radiação.

Estudos especulam que um escudo de 210 mm seria ideal para proteger os seres humanos da radiação gama na órbita da Terra. No entanto, para criar um ambiente semelhante ao terrestre em Marte, seria necessária uma camada de fungos com mais de dois metros de profundidade, o que apresenta desafios significativos em termos de cultivo e manutenção. Assim, medidas convencionais de proteção contra radiação, como trajes espaciais, permanecem mais viáveis, podendo ainda receber um reforço adicional com camadas de fungos.

Em 2019, pesquisadores da Universidade Johns Hopkins enviaram ao espaço um material composto por plástico e melanina extraída do fungo *Cryptococcus neoformans*. Tal material poderia ser empregado para revestir equipamentos e estruturas. Na Terra, o chumbo é o protetor tradicional contra radiação, porém, devido ao seu peso, a NASA estima que custaria US$ 20 mil para transportar um quilo desse material ao espaço. Os fungos apresentam a vantagem de serem leves e de se multiplicarem mesmo em condições adversas.

Cientistas acreditam que, em outras partes do universo, possam existir formas de vida semelhantes, capazes de prosperar em ambientes ricos em radiação.

fonte: uol

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