A Lenda Brasileira do Corpo Seco

Dizem os mais velhos que, há muito tempo, viveu um homem tão cruel, tão ruim, tão desprovido de compaixão, que nem os animais se aproximavam dele. Era amargo, egoísta, e nas palavras dos cantadores: “o gelo parecia quente com a frieza do seu coração”.

Quando enfim a morte o levou, não houve pranto. Enterraram-no às pressas, num canto esquecido do cemitério, sem reza, sem vela, sem despedida. Como todos sabiam, sua alma corrompida acabou encontrando as portas do céu fechadas. No inferno, nem mesmo o diabo se interessou por um homem tão vazio. E por fim, nem mesmo a terra o aceitou!

Na calada da noite, a terra, como se enojada por sua presença, o vomitou de volta à superfície.

O corpo, antes rígido e sem vida, surgiu seco — ressequido como madeira morta, com os ossos cobertos por uma pele fina e estaladiça.
Rejeitado por todos os mundos, condenado a vagar entre eles.

Desde então, vaga pelos ermos, arrastando-se entre as sombras. Dizem que se esconde em troncos ocos, surge nas encruzilhadas, nas estradas escuras e vazias, e se alimenta do medo dos vivos.
Alguns o ouvem sussurrar entre os galhos. Outros sentem seu cheiro — um odor de carne que nunca apodreceu, amaldiçoada a secar eternamente.

E assim segue o Corpo Seco:
um ser que já não pertence a lugar nenhum, condenado a existir onde nem os mortos querem morar.

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// O corpo-seco é uma lenda brasileira muito comum nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina, mas fala-se também da sua presença em outras regiões do Brasil.