Mais de quarenta novos registros do sapinho-de-chifre-paviotii (Proceratophrys paviotii), um anfíbio exclusivo da Mata Atlântica e considerado quase ameaçado de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), deixaram animados estudiosos do Instituto Nacional da Mata Atlântica (Inma).
Os registros foram realizados por 10 “cientistas cidadãos”, como são chamadas pessoas de diferentes idades e regiões do Brasil, que interagem com estudiosos, dentro do projeto “Cantoria de Quintal”, enviando imagens e gravações de som desses bichos, colaborando com material inédito dessa espécie ainda pouco conhecida.
“Contagiados por essa tendência e por habitarmos uma das regiões mais diversas e ameaçadas do planeta em relação aos anfíbios, o Inma decidiu criar o projeto, que tem como principal objetivo envolver pessoas de diferentes idades, localidades e realidades em projetos de ciência e conservação relacionados a esse grupo da fauna”, afirma o estudioso do Inma e coordenador do projeto, João Victor Lacerda.
Com a contribuição do público, os estudiosos descobriram que, ao contrário do que se pensava, o sapinho-de-chifre-paviotii não é tão raro quanto antes se imaginava. Ele foi registrado até mesmo em quintais e poças de chuva formadas em ruas calçadas.
“O sapinho-de-chifre-paviotii está classificado como quase ameaçado, indicando que a probabilidade da espécie passar a figurar entre as ameaçadas é alta. Mas, ao levar em conta os novos registros, consideramos bastante provável que, em avaliações futuras, ele passe a ser classificado como uma espécie menos preocupante em relação ao seu estado de conservação”, afirmou.
Foto: João Victor A. Lacerda/INMA
Para Lacerda, mesmo não estando totalmente protegido de impactos diversos, como os decorrentes das alterações climáticas ou disseminação de doenças, é um alento constatar que a espécie não está tão em risco como se pensava.
O projeto “Cantoria de Quintal”, desenvolvido desde 2020 pelo Inma, em Santa Teresa, no Espírito Santo, já recebeu mais de 900 contribuições enviadas por 160 cientistas cidadãos.
Esses dados ajudaram a registrar cerca de quarenta espécies, algumas delas ameaçadas de extinção, raras ou pouco conhecidas pela ciência. A iniciativa também visa a incentivar o público a participar de outras fases do estudo, como a criação de guias fotográficos e textos científicos.
Os resultados do estudo foram publicados em um artigo na revista internacional PeerJ, em outubro, em colaboração com estudiosos de diversas instituições, como a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) e a Universidade Federal de Goiás (UFG).
Ciência Cidadã no Inma
A relação entre estudiosos e o público surgiu com o Programa de Capacitação Institucional (PCI), criado em 2019, segundo contou a coordenadora do projeto de Ciência Cidadã no INMA, Natália Pirani Ghilardi-Lopes.
“Foi quando iniciamos o ‘Conhecimento, conservação e desenvolvimento sustentável na Mata Atlântica’, um programa que forneceu bolsas para estudiosos desenvolverem estudos estratégicos no Inma. Os estudiosos eram especialistas em diferentes grupos taxonômicos, e aproveitamos essa expertise para incluir o público em monitoramento de biodiversidade”, disse Natália.
“Fizemos visitas às moradias de habitantes do entorno, fomos a escolas, conversamos com professores, e até com os visitantes do Inma. Criamos redes sociais, grupos de WhatsApp e plataformas como o iNaturalist para que as pessoas pudessem enviar fotos, vídeos e áudios. Um grande desafio foi garantir que todos os cientistas cidadãos estivessem familiarizados com essas tecnologias”.
Fonte: estadao.com.br
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