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No interior dos tĂșneis do SĂ­ncrotron Super PrĂłton, acelerador de partĂ­culas mais antigo do CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear), um fenĂŽmeno intrigante foi descoberto. Trata-se de uma estrutura invisĂ­vel, apelidada de “fantasma 4D”, que pode desviar o curso das partĂ­culas ali contidas e criar problemas para a pesquisa cientĂ­fica.

Essa estrutura, descrita como ocorrendo no espaço de fase, que pode representar um ou mais estados de um sistema em movimento, foi identificada como quadridimensional devido à sua complexidade, exigindo quatro estados para sua representação.

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Acelerador de partículas do CERN. Crédito: D-VISIONS/Shutterstock

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Resultante de um fenîmeno chamado ressonñncia, esse “fantasma” interfere no movimento das partículas, levando à perda de trajetória e dificultando o controle do feixe necessário para as pesquisas.

A ressonùncia ocorre quando dois sistemas interagem e sincronizam. Pode ser uma ressonùncia emergindo entre as órbitas planetårias à medida que elas interagem gravitacionalmente em sua jornada ao redor de uma estrela, ou um diapasão que começa a tocar quando as ondas sonoras de outro diapasão atingem suas pontas.

Nos aceleradores de partículas, ímãs poderosos são utilizados para guiar as partículas em trajetórias específicas. No entanto, devido a imperfeiçÔes nos ímãs, podem ocorrer ressonùncias que perturbam o movimento das partículas, criando uma estrutura magnética problemåtica.

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A estrutura de ressonĂąncia 4D que os pesquisadores mediram no SĂ­ncrotron Super Proton. (H. Bartosik, G. Franchetti e F. Schmidt, Nature Physics, 2024)

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A complexidade desse fenÎmeno reside na descrição matemåtica, pois exige considerar mais do que as simples coordenadas de um plano. Enquanto normalmente apenas dois graus de liberdade são considerados, as ressonùncias exigem quatro parùmetros para mapear cada ponto no espaço de fase, o que desafia a intuição geométrica tradicional.

Ideia de investigar “fantasma 4D” do acelerador de partículas surgiu em 2022

Com o intuito de compreender e medir essas ressonĂąncias, os fĂ­sicos realizaram um estudo detalhado, utilizando monitores de posição de feixe ao longo do acelerador. Ao observar aproximadamente trĂȘs mil feixes de partĂ­culas, eles foram capazes de mapear a ressonĂąncia e entender seu comportamento.

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Síncrotron Super Próton, acelerador de partículas mais antigo do CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear). Crédito: CERN

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A ideia de investigar essa questĂŁo surgiu em 2002, quando cientistas do CERN e da Sociedade para Pesquisa sobre Íons Pesados (GSI, na sigla em alemĂŁo) perceberam que as perdas de partĂ­culas aumentavam Ă  medida que os aceleradores pressionavam por maior intensidade do feixe. “A colaboração veio da necessidade de entender o que estava limitando essas mĂĄquinas para que pudĂ©ssemos entregar o desempenho e a intensidade do feixe necessĂĄrios para o futuro”, diz Hannes Bartosik, cientista do CERN e coautor do estudo em um comunicado.

Agora, o próximo passo é desenvolver uma teoria que descreva o comportamento das partículas em presença de ressonùncias. Essa teoria proporcionarå novas estratégias para mitigar os efeitos negativos das ressonùncias, permitindo alcançar feixes de alta qualidade necessårios para os experimentos atuais e futuros de aceleração de partículas.