Havaí usa mosquitos modificados para salvar pássaros próximos a extinção

No Havaí, uma iniciativa científica inovadora está transformando mosquitos em aliados da conservação. O objetivo é proteger as frágeas aves endêmicas conhecidas como honeycreepers, que estão sofrendo com os impactos da malária aviária — transmitida por mosquitos invasores que chegaram às ilhas no século XIX.

Como funciona essa estratégia?

Cientistas criam em laboratório mosquitos machos que carregam a bactéria Wolbachia e são incapazes de gerar descendentes viáveis quando acasalados com fêmeas selvagens – método conhecido como técnica do inseto incompatível (IIT).

Ao liberar esses machos em grande quantidade — cerca de 500 mil por semana em Maui e Kauai — esperam-se cruzamentos com fêmeas silvestres que resultam em ovos que não eclodem, reduzindo gradualmente a população dos mosquitos transmissores da doença.

Os insetos são liberados por helicópteros e drones, que soltam cápsulas biodegradáveis contendo os machos em locais elevados onde vivem as aves ameaçadas.

Objetivo: proteger espécies em perigo crítico

As honeycreepers estão à beira da extinção. Mais de 50 espécies já desapareceram e das aproximadamente 17 que restam, algumas têm apenas poucos indivíduos vivos, como os ʻakikiki (Kauaʻi creeper), com apenas cinco exemplares estimados na natureza em 2023.

Por que usar drones?

Inicialmente, a liberação era feita por helicópteros — capazes de transportar até 250 mil mosquitos por voo. Mas em 2025 começaram a ser usados drones com capacidade para cerca de 23 mil machos por voo. Essa alternativa é mais segura, flexível e eficiente para alcançar regiões remotas e com clima instável.

Consciência ecológica e alcance global

Apesar do nome “mosquitos modificados”, esses insetos não são organismos geneticamente modificados: eles descendem de mosquitos originalmente coletados no Havaí e carregam uma cepa de Wolbachia já presente em outras espécies de mosquito nas ilhas.

Esse é o primeiro uso da técnica IIT voltado exclusivamente à conservação de aves nativas — uma aplicação inédita de uma tecnologia que já foi usada em saúde pública para combater dengue, zika e malária em diferentes países.

Em que ponto estamos?

Desde novembro de 2023, mais de 40 milhões de mosquitos machos foram liberados em Maui e Kauai. Ainda não há dados conclusivos sobre o impacto a longo prazo, mas estudos prévios em programas humanos mostram que a técnica pode reduzir em até 80% a população de mosquitos quando aplicada corretamente.

Os próximos passos incluem monitoramento contínuo e ajustes operacionais para expandir o controle nas zonas habitadas por espécies altamente vulneráveis, como o kiwikiu, o ʻākohekohe e o ʻakekeʻe.

Principais pontos:

. Use de mosquitos machos carregando Wolbachia, que são incapazes de produzir descendência fértil com fêmeas selvagens;

. Lançamento por helicópteros e drones, em cápsulas biodegradáveis em habitats de alta altitude;

. Estratégia visa conter a malária aviária, principal causa da extinção das honeycreepers;

. Projeto é inédito em conservação de aves, mas baseado em técnicas já empregadas em saúde pública.

Fonte: cnnbrasil.com.br