Iret-Neferet: a rara múmia egípcia de mais de 2,5 mil anos descoberta em museu gaúcho

No coração do Rio Grande do Sul, numa cidade de pouco mais de 14 mil habitantes, repousa uma das mais inusitadas raridades arqueológicas presentes no Brasil: um crânio mumificado de origem egípcia que viveu entre 768 e 476 a.C., ou seja, em torno de 2.495 a 2.787 anos atrás.

O artefato, que recebeu o nome de Iret-Neferet, pertenceu a uma mulher que viveu até os seus 40 anos. A confirmação da sua antiguidade foi realizada através da datação por radiocarbono (Carbono-14) — a primeira múmia a passar por esse método de análise no país.

Da chegada ao Brasil até o estudo acadêmico

A trajetória de Iret-Neferet até o Brasil é envolta em histórias que remontam à década de 1950, quando um indivíduo egípcio teria trazido o crânio ao país. A peça passou de herança para um advogado brasileiro, que, posteriormente, doou-a ao Museu 25 de Julho, localizado em Cerro Largo (RS) — a cerca de 499 km de Porto Alegre.

No entanto, foi apenas em 2017 que o objeto passou a ser estudado com rigor. O professor Édison Hüttner, coordenador do Grupo de Estudo Identidade Afro-Egípcias da PUCRS, foi quem percebeu seu potencial científico e iniciou os exames aprofundados.

Análises que revelam os segredos da mumificação

Além da datação, o estudo incluiu uma tomografia computadorizada que revelou detalhes impressionantes: o globo ocular da múmia era composto por uma rocha calcítica, técnica utilizada em práticas de mumificação. Um orifício no osso etmoide, acima do nariz, indicava a extração do cérebro — procedimento típico no embalsamento egípcio.

A peça estava envolta em 22 tiras de linho, além de seda e fios de cabelo, comprovando elementos que reforçam sua origem egípcia.

Um exemplar raríssimo no Brasil

Atualmente, apenas mais uma múmia egípcia é reconhecida como presente no Brasil: Tothmea, conservada no Museu Egípcio Rosa Cruz, em Curitiba (PR).

Múmias que faziam parte de coleções imperiais — trazidas pelos imperadores Dom Pedro I e Dom Pedro II — foram perdidas no trágico incêndio que consumiu o Museu Nacional no fim de 2018.

Próximos passos das pesquisas

A pesquisa envolvendo Iret-Neferet continua. Pesquisadores planejam analisar os fungos e bactérias encontrados no crânio para extrair mais informações sobre o ambiente em que ela viveu. Há também planos de enviar amostras a laboratórios na Alemanha para tentativa de sequenciamento genético e possível identificação de sua linhagem — suspeita-se que possa ter sido de origem nobre.

Fonte: g1.globo.com

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Matheus Noleto

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