Medicina já está testando o chatbot GPT

Com programa piloto, sistemas de saúde dos EUA analisam se ChatGPT agiliza respostas a pacientes em consultas on-line

Em breve, pacientes poderão obter conselhos clínicos do ChatGPT nos EUA

Por trás do conselho clínico de cada médico, há riqueza de conhecimento. Mas, em breve, pacientes dos EUA poderão obter conselhos de uma fonte diferente: IA (inteligência artificial). Especificamente, a IA GPT – mesma do ChatGPT, da OpenAI.

Em dois estados do país, a tecnologia da empresa anda lendo mensagens de pacientes e elaborando respostas de seus médicos. Operação faz parte de um programa piloto, no qual três sistemas de saúde testam se IA reduzirá tempo que equipe médica gasta respondendo às consultas online dos pacientes.

Testes com chatbot

Além dos sistemas de saúde UC San Diego Health e UW Health, o Stanford Health Care pretende se juntar ao lançamento do programa com A

Sistemas de saúde UC San Diego Health e UW Health – vinculados às universidades da Califórnia e Wisconsin, respectivamente – começaram a testar a ferramenta com chatbot em abril de 2023. E a Stanford Health Care pretende se juntar ao lançamento no início da próxima semana. Ao todo, cerca de duas dezenas de profissionais de saúde testam essa ferramenta.

Marlene Millen, médica de cuidados primários da UC San Diego Health, testa o GPT em sua caixa de entrada há cerca de uma semana. Ela contou que as primeiras respostas geradas por IA precisam de bastante edição e sua equipe tem trabalhado para melhorá-las.

Eles também acrescentam uma espécie de atitude à beira do leito. Por exemplo, se um paciente mencionasse o retorno de uma viagem, rascunho poderia incluir trecho perguntando se suas viagens foram bem. “Isso dá o toque humano que daríamos”, disse a doutora Millen.

Existem dados preliminares que sugerem que a IA pode agregar valor. O ChatGPT teve pontuação melhor do que médicos reais em responder às perguntas dos pacientes postadas online, de acordo com um estudo publicado nesta sexta-feira (28) na revista Jama Internal Medicine. Nele, um painel de médicos fez avaliações cegas das postagens.

Como muitos setores testam o ChatGPT como uma ferramenta de negócios, administradores e médicos de hospitais esperam que a assistência da IA alivie o desgaste entre seus funcionários, problema que disparou na pandemia. A sobrecarga de mensagens e o gerenciamento de registros de saúde contribuem, entre as tarefas administrativas, de acordo com a Associação Médica Americana.

Pano de fundo

Desde boom do ChatGPT, Microsoft anuncia integração entre seus recursos e chatbot da OpenAI

A Epic – empresa com sede em Verona, Wisconsin – criou a ferramenta “MyChart”, por meio da qual pacientes podem enviar mensagens para seus profissionais de saúde. E a empresa observou logins que dobraram nos últimos anos. Eles foram de 106 milhões no primeiro trimestre de 2020 para 260 milhões no primeiro trimestre de 2023. Programa da Epic permite que hospitais armazenem registros de pacientes eletronicamente.

No início de abril, Epic e Microsoft anunciaram que sistemas de saúde teriam acesso ao chatbot da OpenAI por meio do software da Epic e do serviço de nuvem Azure da empresa de Bill Gates. Recentemente, a Microsoft investiu na OpenAI – e, desde então, constrói ferramentas de IA para produtos. Enquanto isso, hospitais testam o GPT-3, versão do grande modelo de linguagem que alimenta o ChatGPT.

Além disso, o ChatGPT impressionou cientistas da computação por sua habilidade em responder a consultas médicas – embora seja conhecido por inventar coisas – incluindo sua capacidade de passar no Exame de Licenciamento Médico dos EUA.

O que também impressiona é que os modelos de linguagem da OpenAI não foram especificamente treinados em conjuntos de dados médicos, de acordo com Eric Boyd, vice-presidente corporativo de Plataforma IA da Microsoft. Porém, estudos médicos e informações médicas estavam no vasto conjunto de dados que ensinou chatbot a identificar padrões.

Como programa funciona

Ao clicar na mensagem, IA exibe ao médico rascunho da resposta, após consultar informações sobre o paciente

O programa piloto com chatbot deixou alguns profissionais de saúde empolgados, disse a doutora Millen. “Médicos estão tão esgotados que procuram qualquer tipo de esperança”, acrescentou. Esse sistema hospitalar viu mensagens de pacientes saltarem de 50 mil – num mês antes da pandemia – para mais de 80 mil – um mês depois. Em alguns meses de pandemia, o número saltou para mais de 140 mil, segundo a doutora Millen.

Agora, quando a doutora Millen clica na mensagem de um paciente, a IA exibe instantaneamente rascunho de resposta. Ao fazer isso, IA consultou informações na mensagem do paciente, bem como uma versão resumida de seu histórico médico eletrônico. É o que explicou Seth Hain, vice-presidente sênior de pesquisa e desenvolvimento da Epic. E acrescentou que os dados médicos são protegidos em conformidade com as leis federais que exigem a privacidade do paciente.

Existe a opção de começar com o rascunho – e editar ou enviar a mensagem como está, se estiver correta – ou começar com uma resposta em branco. Rascunhos da IA fazem referência ao prontuário do paciente quando propõem uma resposta, por exemplo, mencionando a medicação existente ou a última vez que foram vistos pelo médico. “Está nos ajudando a começar”, disse ela, economizando vários segundos que seriam gastos puxando o prontuário do paciente.

Chatbot no cotidiano dos médicos

Administradores e médicos disseram que ferramenta com chatbot pode ser transformadora…se funcionar

Por enquanto, a equipe de San Diego impediu que a IA respondesse a qualquer consulta que buscasse orientação médica. Da mesma forma, em Wisconsin, os dez médicos da UW Health permitiram respostas de IA a um conjunto limitado de perguntas dos pacientes, incluindo solicitações de prescrição e solicitações de documentação ou papelada, de acordo com Chero Goswami, diretor de informações da UW Health.

Administradores e médicos dizem que a ferramenta pode ser transformadora – mas apenas se funcionar. Se rascunhos exigirem muita verificação ou modificação dos fatos ou exigirem muito tempo, médicos perderão a confiança neles, disse Patricia Garcia, gastroenterologista da Stanford Health Care, que faz parte da equipe que pretende começar a testar o GPT para mensagens a partir da próxima semana. “Eles só vão usar isso enquanto estiver facilitando a vida deles”, acrescentou.

De acordo com uma equipe de médicos, a versão do ChatGPT usada no estudo é significativamente melhor do que os médicos para responder a perguntas médicas postadas online. No novo estudo publicado na Jama Internal Medicine, autores do estudo vasculharam o fórum Reddit r/askDocs, onde pessoas postam perguntas sobre sua saúde e doenças. E os provedores médicos verificados por moderadores do Reddit postam respostas.

O estudo

Em estudo – com avaliação cega – respostas do ChatGPT para pacientes foram consideradas mais empáticas que as dos médicos

Para o estudo, autores pegaram 195 perguntas e respostas de médicos que foram postadas em outubro de 2022 neste fórum. Eles, então, fizeram a pergunta médica ao ChatGPT e registraram a resposta da IA.

Uma equipe de cinco profissionais médicos avaliou as respostas da IA quanto à qualidade e empatia em relação às respostas escritas por médicos no Reddit. Sem saber quem escreveu qual, os avaliadores deram classificações “bom” ou “muito bom” para quatro vezes mais respostas do ChatGPT do que postagens de médicos. Além disso, apenas 4,6% das postagens dos médicos foram classificadas como “empáticas” ou “muito empáticas”, em comparação com 45% – dez vezes mais – postagens do ChatGPT.

Christopher Longhurst, diretor digital e diretor médico da UC San Diego Health, autor do estudo, disse que dados do estudo o persuadiram a experimentar o programa piloto de IA. “Agora há pesquisas mostrando que isso vai ajudar – bem, vamos ver se podemos traduzir isso na prática”, disse ele.

FONTE: OLHAR DIGITAL