Obs: P’ra nós da EDL, não há novidade na descoberta do “electroma” e nas questões de manipulação eletromagnética dos átomos. Por isso as aspas no título da matéria. Mas claro os avanços nos estudos são sempre bem-vindos. Não esqueça de conferir os conteúdos complementares sobre curas no final da matéria!
Nas últimas décadas, muitas das pesquisas científicas que tentaram desvendar o funcionamento do corpo humano concentraram-se em estudar três sistemas principais: o genoma, o proteoma e o microbioma.
O genoma é a sequência de DNA que todo organismo possui e contém sua informação genética completa. Já o proteoma é o conjunto de proteínas fabricadas pelos genes – os “tijolos essenciais” da vida. E o microbioma é o ecossistema de micro-organismos que vivem no corpo e são fundamentais para a saúde.
Começa agora a aumentar o interesse por outro sistema que é fundamental para a vida, não só dos seres humanos, mas também das plantas e de outros animais: a rede bioelétrica que faz os organismos funcionarem. Alguns cientistas começaram a chamá-la de “electroma”.
“Assim como os sinais elétricos sustentam as redes de comunicação do mundo, estamos descobrindo que eles fazem o mesmo no nosso corpo: a bioeletricidade é a forma em que as nossas células se comunicam entre si”, explica em um artigo recente no site da organização britânica Nesta a divulgadora científica Sally Adee, especialista neste campo e autora do livro We Are Electric (“Somos elétricos”, em tradução livre), lançado em fevereiro de 2023.
Algumas pessoas atribuem a Adee a criação do neologismo “electroma”. Ela afirma que “não podemos subestimar a forma total e absoluta em que todos os seus movimentos, percepções e pensamentos – e os meus – são controlados pela eletricidade”.
Ela destaca que compreender o electroma é fundamental porque, se interviermos no processo bioelétrico do corpo, poderemos “consertá-lo quando houver algo de errado, seja por trauma, defeitos de nascimento ou câncer”.
Como funciona
O professor emérito de biologia do câncer Mustafa Djamgoz, do Imperial College de Londres, é um dos primeiros cientistas a aplicar a bioeletricidade no tratamento desta doença e explica o que é a corrente que existe em nosso corpo e como ela é gerada.
“Todos os elementos que temos no nosso corpo, como o sódio, potássio, cálcio, magnésio e zinco, passam por uma reação química que causa a separação dos seus átomos, formando o que se conhece como íons, que são partículas eletricamente carregadas”, explica o professor.
“Os fluidos do nosso corpo estão repletos destes íons. Os de carga oposta se atraem e os que possuem a mesma carga se repelem”, prossegue ele. “E, quando circulam pelo nosso corpo, eles geram uma corrente.”
Djamgoz ressalta que é uma corrente com potência muito baixa: apenas 70 milivolts. Como termo de comparação, uma pilha AA comum tem 1,5 mil milivolts. Mas a bioeletricidade do corpo é fundamental para seu funcionamento, segundo ele, já que é através desses sinais elétricos que as diferentes partes do corpo se comunicam.
Os íons circulam pelas nossas células atravessando os canais iônicos, que são proteínas incrustadas na membrana celular
Djamgoz destaca que a rede bioelétrica do corpo funciona sob os mesmos princípios fundamentais aplicados a qualquer circuito elétrico, incluindo a lei de Ohm, que estabelece que a tensão é igual à corrente, multiplicada pela resistência.
A grande diferença é que, enquanto a eletricidade tradicional se move ao longo do núcleo condutor dentro de um cabo, a bioeletricidade é gerada por íons que fluem através da membrana celular (a cobertura).
Como a membrana tem função de vedação, os íons, para penetrar na célula, devem atravessar uma espécie de comporta – proteínas chamadas de “canais iônicos”, incrustadas na membrana. Quando os íons fluem por esses canais, produz-se a condução elétrica.
Para o especialista, é um paradoxo que o sistema bioelétrico tenha sido muito menos estudado que outros sistemas que regem o corpo, como o genoma, já que sua compreensão apresenta muito menos dificuldade.
“Temos 22 mil genes e cada pessoa tem uma composição genética diferente. Por isso é que temos medicina personalizada”, segundo ele. “Mas, na bioeletricidade, existe uma única lei fundamental, aplicada a todos.”
Djamgoz também destaca que todas as células e tecidos do nosso corpo – neurônios, nervos, músculos, cartilagens, intestino etc. – utilizam o mesmo processo para se comunicar.
“Quando pensamos nas propriedades elétricas do corpo, pensamos em primeiro lugar no cérebro, no coração e nos músculos, mas a realidade é que até os micróbios do nosso intestino, o sistema imunológico e as células cancerígenas geram sinais elétricos”, afirma ele.
Para o professor, “a bioeletricidade realmente é uma das forças ou mecanismos mais fundamentais da natureza”.
O tratamento
Voltando à aplicação da bioeletricidade para impedir o avanço do câncer, o tratamento revolucionário sendo desenvolvido por Djamgoz está relacionado com a forma de transmissão dos sinais elétricos dentro do corpo.
Já mencionamos que, para entrar e sair das células, os íons (átomos com carga elétrica) utilizam canais iônicos, que são proteínas presentes nas membranas celulares. Elas funcionam como comportas – quando elas se abrem, o íon pode passar.
No caso do câncer, que é basicamente uma doença que ocorre quando as células crescem e se propagam de forma descontrolada, o professor explica que esses canais iônicos desempenham papel fundamental, já que “são eles que controlam a proliferação e a migração das células”.
Graças às pesquisas iniciadas pelo especialista na década de 1990, ele e sua equipe descobriram um dado revelador: as células cancerígenas ficam agressivas – ou seja, elas tendem a se multiplicar e propagar – quando são “eletricamente excitáveis”.
“As células cancerígenas geram um zumbido de atividade elétrica e isso as torna hiperativas”, explica Djamgoz.
Este dado é muito importante, segundo o professor, porque “o problema do câncer não é ter um tumor. Você pode viver com um tumor, desde que seja local. O problema aumenta quando o câncer se propaga, em um processo que chamamos de metástase.”
Djamgoz descobriu que a chave para interromper esse crescimento hiperativo é fechar as comportas elétricas das células – ou seja, bloquear os canais iônicos, mais especificamente os canais de íons de sódio, que são os responsáveis por causar a “excitação eletrônica” que promove o crescimento do câncer.
Utilizando produtos farmacêuticos para bloquear esses canais, o professor conseguiu interromper a proliferação e a propagação de células cancerígenas em animais. Seu próximo desafio é realizar testes em seres humanos, o que é um processo muito mais complexo.
Mas ele defende que já tem indícios de que a técnica também poderá funcionar em pessoas.
O especialista em ciências biomédicas William Brackenbury, da Universidade de York, no Reino Unido, é ex-estudante de doutorado de Djamgoz. No final de 2022, ele publicou os resultados de um estudo epidemiológico que analisou informações de 53 mil pacientes com câncer de três tipos: mama, próstata e cólon.
Cerca de 150 desses pacientes também tinham angina crônica, uma doença coronariana que é tratada utilizando um medicamento chamado ranolazina, que bloqueia os canais de íons de sódio em condições de baixo nível de oxigênio, que também são produzidas nos tumores em crescimento.
O especialista em câncer e neurobiologia do Imperial College de Londres, Mustafa Djamgoz, é um dos pioneiros no uso da bioeletricidade no tratamento de doenças
O estudo demonstrou que as pessoas que tomaram o bloqueador sobreviviam, em média, por 60% mais tempo que os demais pacientes de câncer que não estavam tomando esse produto.
“Medicamentos como a ranolazina podem transformar os cânceres agressivos em estado benigno, ou seja, sem metástase, permitindo que os pacientes vivam com o câncer de forma crônica, como o diabetes”, segundo o especialista. “Isso também elimina os efeitos secundários tóxicos e indesejáveis de tratamentos como a quimioterapia.”
Djamgoz patenteou seu tratamento contra o câncer usando o bloqueador de canais de íons de sódio em vários países, incluindo o Reino Unido, Japão, Canadá, Austrália e Estados Unidos.
Outros usos médicos
Mas a bioeletricidade não tem potencial apenas para a cura do câncer. A mesma “excitação eletrônica” que faz com que as células cancerígenas se multipliquem pode ser usada com outro objetivo positivo: a cura de feridas.
Sally Adee explica que já foi descoberto que as células da pele “geram um campo elétrico quando são lesionadas”.
“A corrente da ferida chama o tecido vizinho, atraindo ajudantes como agentes curativos, macrófagos para limpar a desordem e células reparadoras de tecido de colágeno, chamadas fibroblastos”, explica ela.
Em 2012, o cientista Richard Nuccitelli conseguiu medir a corrente elétrica das feridas e concluiu que ela aumenta quando há a lesão, é reduzida à medida que a ferida sara e volta a ser indetectável quando a cura está completa.
Adee também descobriu que as pessoas cuja corrente de tensão era fraca curavam-se mais lentamente do que aquelas cuja corrente de lesão era “mais forte”. Além disso, a força da corrente da ferida é reduzida com a idade, emitindo um sinal com a metade da força nas pessoas maiores de 65 anos, em relação aos menores de 25 anos de idade, segundo detalha a especialista no seu artigo.
Esta descoberta levou alguns cientistas a tentar estimular a eletricidade natural do corpo para acelerar a cura de feridas.
Dois estudos publicados na última década sobre o tratamento de uma das feridas mais difíceis de curar (as escaras, que afetam principalmente as pessoas acamadas), demonstraram que o estímulo elétrico “quase duplicou sua taxa de cura”, segundo Adee, mencionando os trabalhos de Koel e Hoghton, em 2014, e de Girgis e Duarte, em 2018.
A divulgadora científica destaca que existem até evidências de que a mesma técnica pode acelerar a cura de ossos fraturados.
Via BBC
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