Urubu do Pix: confira como se proteger

Uma página de memes inocente e com milhares de seguidores no Twitter posta uma oferta atraente, lucrativa e com poucas explicações: ao enviar uma quantia de dinheiro via Pix para um corretor desconhecido, o valor será multiplicado e devolvido em minutos. Um simples depósito de R$ 30 pode garantir R$ 300 em poucos segundos, garantindo uma valorização astronômica em instantes, segundo a oferta bastante suspeita. A abordagem, por vezes caracterizada como “Urubu do Pix”, preda vítimas necessitadas para obter ganhos rápidos e, possivelmente, dados privados dos usuários. O TecMundo investigou o golpe envolvendo transferências Pix via WhatsApp e conta mais sobre o caso nesta reportagem. Veja como o esquema funciona e confira como se proteger.

Como começou?
Embora não se limite à rede social, o golpe ganhou popularidade durante as últimas semanas no Twitter, geralmente utilizando páginas de memes — compradas ou patrocinadas — para ser promovido. De maneira geral, os criminosos costumam operar através de perfis novos e com pouco histórico para realizar anúncios. O modus operandi é bastante similar entre as diversas contas utilizadas: um texto simples, prometendo lucros exorbitantes, como “R$ 100 vira R$ 1.000”. Outra recorrência é a possibilidade de enviar um “valor teste”, geralmente menor — quando ocorre a “emboscada”.

Segundo o especialista em segurança informação da ESET, Daniel Barbosa, o golpe não é exatamente elaborado e trata-se de uma abordagem de engenharia social. Ou seja, os criminosos apostam na manipulação psicológica para tirar vantagem das vítimas. Apesar da simplicidade e quase beirar ao absurdo, a promessa de uma renda extra é atrativa para internautas em vulnerabilidade econômica, especialmente num contexto nacional onde a inflação devora cada vez mais o poder de compra do salário mínimo.

Os perfis que divulgam o golpe também utilizam vídeos, normalmente em baixa resolução e protagonizado por pessoas simples, para dar um tom maior de realidade ao golpe. Além disso, as publicações também contam com imagens de supostos usuários do esquema agradecendo via WhatsApp e recibos falsos de transferências. Com as estratégias elaboradas de divulgação, o golpe pode parecer verídico para pessoas que podem estar desesperadas para conseguir uma renda extra ou simplesmente não possuem experiência com o mundo online.

Como funciona o golpe do Urubu do Pix?
Buscando entender como funciona o golpe na prática, o TecMundo entrou em contato com um “Urubu do Pix” para realizar uma negociação. Conforme explicitado anteriormente, encontrar uma “oferta de investimento” no Twitter foi uma tarefa simples, já que diversas páginas com relevância compartilham o esquema. No entanto, vale notar que os anunciantes mudam diariamente — embora as contas promotoras continuem as mesmas. O contato foi realizado através de um link que leva ao WhatsApp, disponibilizado já no tweet de anúncio, fora do horário comercial. Apesar disso, o atendente não demorou para retornar e foi bastante cortês, mesmo que breve. Segundo ele, o dinheiro seria devolvido com juros para a conta original em apenas 5 minutos após a transferência da quantia base, selecionada pelo cliente.

Para proteger a transação, há uma promessa de “total segurança”, sem medidas práticas apresentadas ou qualquer garantia. Após perguntar sobre os pacotes disponíveis, o atendente apresenta uma captura de tela com os mesmo valores ofertados no tweet original — que também continha um vídeo de um suposto cliente satisfeito, agradecendo e garantindo a qualidade do serviço. Adiante, ele oferece uma “quantia-teste” de R$ 30 e esclarece que só trabalha com transferências em Pix, dispensando outros meios de pagamento. Ao receber a quantia-teste, o atendente não responde, mas continua a visualizar as mensagens.

Buscando testar a profundidade do golpe, o TecMundo chegou a oferecer uma quantia fictícia muito maior, desde que a transferência inicial fosse honrada. Mesmo demonstrando interesse, ele promete o envio do valor devido, mas logo bloqueia o contato. Ou seja, se você ainda tinha alguma ponta de dúvida sobre os golpes de transferência via WhatsApp e precisava de alguma evidência, aí está: o Urubu do Pix não funciona e você terá seu dinheiro roubado, independente da quantia enviada ao criminoso.

Crime, independente do valor
Nesse contexto, o TecMundo ressalta que a prática de golpes como o do “Urubu do Pix” é considerada crime, independente do valor enviado, tipificando-se como estelionato — quando há vantagem ilícita às custas de alguém, enganado através de um meio ardil ou de uma artimanha. No caso em questão, o interesse do criminoso parece ir além do dinheiro, já que ele solicita o comprovante de pagamento, que costuma exibir o nome completo dos clientes e, em algumas empresas, informações básicas de contas bancárias e números do CPF. Para Daniel Barbosa, especialista da ESET, a melhor forma de evitar golpes similares é desconfiar de ofertas “boas demais para serem verdade”, além de não interagir com links e arquivos enviados por desconhecidos. Ele reforça: “Se houvesse de fato algo com esse tipo de rentabilidade sendo divulgado amplamente, o esquema quebraria por si só”.

Como recuperar o Pix enviado para golpes?
O especialista em segurança da informação ainda explica que até é possível recuperar valores enviados para destinatários em golpes desse tipo, no entanto, deve-se realizar um boletim de ocorrência e contatar imediatamente o banco mediador da transferência, assim que o problema for identificado. Ele também esclarece que, como o envio dos valores foi feito sem o uso de coerção, ele é tecnicamente legítimo — fator que pode complicar o processo de ressarcimento.

O meme do Urubu do Pix
Enquanto o golpe de transferência via Pix relatado ocorre sem punição nas redes sociais, já existem vários memes satirizando a simplicidade do esquema. No próprio Twitter, o ninho do Urubu do Pix, os usuários compartilham imagens e itens de publicidade com diversas variações de “oferta” — incluindo “Galo da Nubank”, “Ratão do PayPal” e “Papagaio do PicPay”.