
O significado literal do termo “toxicologia” é “o estudo dos venenos”.
A palavra deriva do antigo termo grego “toxikon”, que
designava os venenos nos quais as flechas eram mergulhadas. A antiga história da toxicologia focava-se no conhecimento e uso dos diferentes venenos.
( Pedras de Bezoar: pedra calcária que se forma no estômago e nas vias urinárias dos animais ruminantes, tal como em antílopes, camelos, veados e bodes. Desde a Idade Média que se acreditava que a pedra protegia das doenças e que era um poderoso antídoto contra venenos. Pensava-se que quanto mais raro era o animal, mais poderosa era a pedra de bezoar. Isabel I de Inglaterra usava anéis com incrustações desta pedra. Napoleão Bonaparte, por sua vez deitou fora todas as suas pedras. )
O aspeto mais curioso do estudo dos venenos nesse período é o próprio nome que se dava a eles. Eram chamados de “vírus”. O significado original da palavra é o de um líquido venenoso, de origem animal ou vegetal. A palavra era aplicada na antiguidade ao veneno das cobras e escorpiões, a sucos vegetais venenosos ou a venenos preparados artificialmente e passou também a ser usada para indicar emanações venenosas, cheiros desagradáveis e também sucos ou secreções com algum poder mágico ou medicinal.
O estudo dos venenos levou à busca de antídotos – remédios específicos contra cada tipo de veneno, capaz de anular os seus efeitos. Essa ideia de antídoto era completamente diferente da conceção hipocrática dos remédios, que se destinavam a reestabelecer o equilíbrio dos humores corporais e não a combater alguma substância estranha que entrou no organismo.
(Os quatro temperamentos humanos, segundo a teoria de humores,
representados por C. Ripa (1603): fleumático (predominância da
água), sanguíneo (ar), colérico (fogo), melancólico (terra) )
Na busca de antídotos eficazes, começou-se também a elaboração de misturas extremamente complexas de muitas substâncias diferentes onde procuravam utilizar apenas uma ou duas substâncias que fossem capazes de produzir o vômito, a evacuação, etc.
Na época entre os romanos, generaliza-se a ideia de que as epidemias são produzidas por fenômenos celestes. A astrologia estabelecia uma conexão entre os astros e os fenômenos terrestres. Eram especialmente os cometas que eram vistos como os anunciadores das maiores tragédias.
A escola de Salerno produziu, no século XIII, uma obra em versos sobre a manutenção da saúde, “Regimen sanitatis Salernitanum” que constitui uma boa amostra do que era a Medicina europeia da alta Idade Média:
Uma importante preocupação do “Regimen” de Salerno é com alimentos capazes de prevenir enfermidades:
“Seis coisas que aqui serão descritas
Possuem um poder secreto contra todos os venenos:
Pera, alho, raizes de rabanete, nozes, nabo e ruta,
Principalmente alho; pois aquele que o comer,
Pode beber, e não se preocupar com quem fez sua bebida;
Pode caminhar todas as horas por ares infectados.
Como o alho possui portanto poderes de salvar da morte,
Suporte-os, embora produzam um hálito desagradável:
E não zombe do alho, como alguns que pensam
Que ele apenas faz os homens piscarem, beberem e federem.”
No final da Idade Média e no Renascimento, a Europa foi varrida por grandes pestes, de diversos tipos. Uma das mais terríveis epidemias medievais foi a peste negra. Iniciou-se em 1347 ou 1348 e estima-se que matou 1/3 da população da Europa. Parecendo ter sido uma combinação de peste bubônica e pneumonia.
Para a prevenção da doença era recomendado “fugir do lugar antes de ficar infetado”, purgantes, sangrias para diminuir o sangue, purificar o ar com fogo e fortificar o coração com a teriaga, frutos e coisas perfumadas; fortificar os humores com o “bolus” da Armênia e resistir à putrefação com coisas ácidas.
(originário da Europa Central e datado do século XVI, este raro pomander, uma “roda de cheiros”, destinava-se aos viajantes que circulassem por áreas atacadas pela peste. Em cada compartimento, escondia-se um odor específico, que o proprietário da peça inalaria para fugir à doença)
Para curar os doentes, acreditava-se que o tratamento principal era pelo arrependimento, pela oração, sacrifícios; o uso de remédios se torna secundário, e deveria ser acompanhado pela oração, tentava-se utilizar sangrias e evacuações, fazia-se os abcessos externos “madurarem” por meio de figos e cebolas cozidas, misturados com fermento e manteiga. Depois, eles eram abertos e tratados como uma úlcera. Aplicavam-se nos tumores ventosas que depois eram escarificados e cauterizados.
Guy de Chauliac elaborou uma teriaga especial para essa peste, seguindo os ensinamentos de Arnaldo de Villanova e dos médicos de Paris e Montpellier.
O remédio era composto por mais de 40 substâncias diferentes, incluindo noz moscada, gengibre, zedoária, raiz de genciana, sálvia, menta, limão, “osso de coração do cervo”, raspas de marfim, safira, esmeralda, coral vermelho, aloés, sândalo, conserva de rosas, conserva de nenúfares e outros materiais variados.
Mesmo as pessoas mais informadas, dificilmente saberão quais os testes necessários para se estabelecer qual certo micro organismo é a causa de determinada doença. Quando as técnicas médicas não curam uma pessoa, ela recorre a orações aos santos, benzedeiras e curandeiros. Os substratos mais profundos de nossa cultura popular não são muito diferentes dos de dois mil anos atrás.
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Fonte: https://www.ghtc.usp.br/Contagio/intro.html
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