Psicodélicos no Combate à Depressão: Evidências Clínicas e Neurobiológicas

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Ação dos Psicodélicos nas Estruturas do Sistema Nervoso Central e Tratamento da Depressão

Nas últimas décadas, os psicodélicos vêm ganhando destaque na neurociência e na psiquiatria devido ao seu potencial terapêutico no tratamento de transtornos mentais, especialmente a depressão. Substâncias como a psilocibina, LSD, DMT e MDMA, que durante anos foram marginalizadas por seu uso recreativo, agora são investigadas em contextos clínicos por seus efeitos promissores na saúde mental. Tais compostos atuam de maneira profunda no sistema nervoso central (SNC), promovendo alterações perceptivas, cognitivas e emocionais que parecem contribuir para o alívio de sintomas depressivos.

A principal via de ação dos psicodélicos clássicos envolve a modulação do receptor serotoninérgico 5-HT2A, amplamente distribuído no córtex cerebral. A ativação desses receptores está relacionada à intensificação da plasticidade sináptica e à reorganização funcional de circuitos cerebrais, especialmente em regiões associadas ao humor, como o córtex pré-frontal, o sistema límbico e o tálamo. Essas alterações ajudam a “destravar” padrões rígidos de pensamento negativos típicos da depressão, oferecendo ao paciente uma nova perspectiva sobre si e sobre suas experiências.

Estudos de neuroimagem revelam que os psicodélicos reduzem a conectividade da default mode network (DMN), rede cerebral ligada à ruminação e à autoconsciência exagerada, frequentemente hiperativa em indivíduos deprimidos. Com a diminuição dessa atividade, ocorre uma espécie de “desconstrução do ego”, que facilita experiências subjetivas de dissolução do eu e integração emocional. Esse estado parece propiciar uma abertura psicológica significativa, possibilitando que o indivíduo ressignifique memórias traumáticas e padrões comportamentais disfuncionais.

Além disso, evidências sugerem que psicodélicos estimulam o crescimento de novas conexões neurais, um processo chamado neurogênese e sinaptogênese. Essa renovação neural pode ser um dos fatores que explicam a eficácia rápida e duradoura dessas substâncias, muitas vezes observada após uma única sessão terapêutica. Diferente dos antidepressivos tradicionais, que podem levar semanas para surtirem efeito, psicodélicos produzem mudanças clínicas em questão de horas ou poucos dias.

Outro aspecto relevante é o contexto terapêutico em que essas substâncias são administradas. A chamada “terapia assistida por psicodélicos” envolve sessões de preparação, a experiência em si sob supervisão de profissionais capacitados, e sessões de integração, nas quais o paciente é auxiliado a processar e aplicar as percepções obtidas. Essa abordagem integrativa maximiza os benefícios e minimiza riscos, como reações adversas ou desorganização psíquica.

Embora os resultados sejam encorajadores, é importante ressaltar que o uso clínico de psicodélicos ainda está em fase experimental e regulamentações rigorosas são necessárias. A variabilidade individual na resposta às substâncias e o potencial para efeitos psicológicos adversos exigem protocolos cuidadosos, além de critérios bem definidos de elegibilidade. Ainda assim, o campo da psicodélico-terapia representa uma revolução potencial na maneira como tratamos transtornos mentais resistentes.

Portanto, a ação dos psicodélicos no sistema nervoso central e sua aplicação no tratamento da depressão marcam uma nova era na neurociência clínica. A capacidade dessas substâncias de remodelar circuitos cerebrais e promover experiências emocionais profundas abre caminho para intervenções mais eficazes e humanizadas. À medida que a ciência avança e a sociedade revisita seus paradigmas sobre drogas e saúde mental, os psicodélicos podem se tornar ferramentas valiosas no arsenal terapêutico da psiquiatria moderna.

Apesar do entusiasmo crescente, é fundamental compreender que os psicodélicos não são “curas milagrosas”, mas ferramentas que, quando usadas com responsabilidade e em ambientes clínicos controlados, podem catalisar processos terapêuticos profundos. A experiência psicodélica, em si, não resolve o sofrimento psíquico, mas pode funcionar como um “interrompedor de padrão”, permitindo ao indivíduo explorar, com apoio psicoterapêutico, novos significados para sua dor e suas vivências. Isso evidencia a importância do acompanhamento profissional e da integração da experiência em um plano terapêutico consistente.

Outro ponto relevante envolve a segurança do uso dos psicodélicos. Embora a toxicidade física dessas substâncias seja geralmente baixa, os riscos psicossociais não podem ser ignorados. Indivíduos com histórico de psicose, transtorno bipolar ou vulnerabilidade a estados dissociativos podem reagir de forma imprevisível. Por isso, a triagem cuidadosa e o monitoramento constante durante o tratamento são fundamentais para garantir a segurança do paciente. Além disso, a formação de terapeutas especializados nesse tipo de intervenção é uma demanda urgente no cenário da saúde mental.

As pesquisas atuais também estão se expandindo para além da depressão. Resultados promissores já foram encontrados no tratamento do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), da ansiedade existencial associada a doenças terminais, e de vícios como alcoolismo e tabagismo. Em todos esses casos, os mecanismos de ação parecem envolver não apenas a alteração química no cérebro, mas também experiências subjetivas de transcendência, perdão, reconexão e compaixão, aspectos frequentemente negligenciados na medicina convencional.

Do ponto de vista ético e legal, muitos países estão revendo suas legislações sobre substâncias psicodélicas, permitindo estudos clínicos e, em alguns casos, autorizando o uso terapêutico sob regulamentações específicas. A descriminalização e regulamentação controlada podem reduzir os riscos do uso indiscriminado e permitir o desenvolvimento de um modelo médico baseado em evidências. No Brasil, por exemplo, a pesquisa com psilocibina e ayahuasca tem despertado o interesse de centros universitários e grupos de pesquisa em saúde mental.

A espiritualidade, embora não seja necessariamente parte de todos os protocolos clínicos, é frequentemente relatada por pacientes durante experiências com psicodélicos. Muitos descrevem vivências místicas que resultam em maior aceitação da vida, reconciliação com o passado e sentido de conexão com o todo. Esses relatos, longe de serem meramente “efeitos colaterais”, parecem ter correlação direta com a melhora clínica em diversos estudos, reforçando a ideia de que o tratamento da depressão pode se beneficiar de abordagens que transcendam o modelo puramente biomédico.

Em conclusão, a ação dos psicodélicos sobre o sistema nervoso central e seu uso no tratamento da depressão representam uma convergência inédita entre ciência, psicologia e experiência subjetiva. A retomada desses estudos, agora com métodos científicos rigorosos, oferece uma nova compreensão da mente humana e de como podemos tratar o sofrimento de maneira mais profunda e eficaz. Com ética, pesquisa e responsabilidade, os psicodélicos têm o potencial de transformar paradigmas na psiquiatria e na promoção da saúde mental.

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Como os Psicodélicos Atuam no Cérebro e Ajudam a Tratar a Depressão

O número de indivíduos afetados pela depressão aumenta a cada dia. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as estimativas atuais sugerem que a depressão será um dos encargos globais da doença até 2030. Além dos custos de tratamento das pessoas afetadas pela depressão, os países podem sofrer impactos económicos, devido à inadequação ocupacional.

As drogas psicodélicas têm a característica de alterar o comportamento, o humor e as percepções dos indivíduos. Estudos de imagem mostram que os psicodélicos afetam as funções da rede de conexão, em várias partes do cérebro, que não se comunicam entre si em condições normais.

Dentre os 14 tipos diferentes de receptores 5-HT, o receptor 5-HT2A (serotonina 2A/subtipo do 5-HT2) desempenha um papel crucial nos efeitos dos alucinógenos e de algumas doenças mentais com etiologias complexas. Embora os alucinógenos não se liguem apenas aos receptores 5-HT2A (como a A dietilamida de ácido lisérgico – LSD – ligado aos subtipos de receptores 5-HT, receptores dopaminérgicos e adrenérgicos), a ativação desses receptores é necessária para produzir alucinogênese e também é eficaz em processos como humor, aprendizagem, memória, ciclos sono-vigília e apetite e também na neurogênese.

Embora o receptor 5-HT2A seja estudado principalmente no Sistema Nervoso Central (SNC), também é expresso nas plaquetas e no trato gastrointestinal. O receptor 5-HT2A liga-se a várias vias de sinalização, através do recrutamento de uma série de proteínas citosólicas. 

As drogas psicodélicas, assim como muitas drogas que têm como alvo esse receptor, ativam esses vários receptores acoplados à proteína G. No entanto, o 5-HT2A é o principal receptor responsável pelos efeitos comportamentais dos medicamentos psicodélicos. O LSD está mais fortemente ligado aos receptores 5-HT1 e 5-HT2A, em comparação com outros psicodélicos serotoninérgicos, como a psilocibina e a dimetiltriptamina (DMT). 

O LSD está ligado aos receptores adrenérgicos e dopaminérgicos aos quais, outros psicodélicos serotoninérgicos não estão associados. Tomados em conjunto, os medicamentos psicodélicos podem ajudar a reparar as redes cerebrais dos indivíduos. cujo córtex pré-frontal foi danificado pela depressão. 

Drogas psicodélicas, especialmente LSD e 2,5-Dimetoxi-4-iodoanfetamina (DOI), que é um psicodélico sintético, têm efeitos anti-inflamatórios e anticancerígenos. O LSD, a psilocibina e o DMT aumentam o cortisol sérico e o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). Os níveis de oxitocina são baixos em indivíduos com depressão, estudos mostraram que o LSD aumenta os níveis de oxitocina.

O LSD é um dos psicodélicos clássicos que, normalmente, produzem distorções perceptivas e mudanças nos estados de consciência, principalmente por ação agonística no receptor 5-HT2A da serotonina, aumenta o humor positivo, o comportamento social, a empatia emocional e reduz os estados emocionais negativos. 

O LSD é o psicodélico mais forte que tem uma cinética de dissociação muito lenta no receptor 5-HT2A e, portanto, efeitos duradouros. Os efeitos mentais do LSD incluem distorção do sentido de tempo e identidade, mudanças na percepção profunda e temporal, alucinações visuais, sensação de euforia, percepção distorcida nos sentidos visual, auditivo, tato e olfato, imagem corporal e delírios. 

A psilocibina são cogumelos alucinógenos que pertencem estruturalmente ao grupo dos alucinógenos triptaminas e estão estruturalmente relacionados à serotonina. Seus compostos químicos têm estrutura semelhante ao LSD. É um dos psicodélicos mais utilizados, devido à sua segurança e efeito positivo de longa duração,  tem um efeito positivo nos comportamentos direcionados a objetivos, um forte efeito no contraste do humor, se comparado a outras drogas, afeta os correlatos neuronais do processamento facial emocional, consistente com uma modulação do controle de cima para baixo. 

A ayahuasca é uma bebida obtida a partir da combinação da planta Psychotria Viridis que contém DMT e da planta Banisteriopsis Caapi que contém β-carbolina (harmina, harmalina e tetrahidroharmina) e atuam como inibidores reversíveis da monoamina oxidase (MAO)-A. Há muito tempo, tem sido utilizado em rituais xamânicos e para fins terapêuticos.

Os benefícios potenciais da ayahuasca e do DMT nos transtornos de humor indicaram que a harmina tem um efeito antidepressivo, que mostra diminuição dos parâmetros de estresse no hipocampo, uma estrutura relacionada à regulação do humor. 

A psicoterapia psicodélica assistida (PAP) foi definida como o uso de cetamina, psilocibina, LSD, ibogaína e 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA), como parte de sessões detalhadas de psicoterapia sob o controle de terapeutas. Embora existam várias metodologias usadas na psicoterapia psicodélica assistida, psicolítica terapia e terapia psicodélica são duas das mais comumente usadas entre elas.

A terapia psicolítica refere-se a um tipo de psicoterapia psicanaliticamente informada, que se integra à administração de baixas doses de LSD (30-200 mg) durante várias sessões. Acreditava-se que as sessões proporcionavam aos pacientes um acesso mais profundo ao inconsciente para relaxamento emocional.

Na terapia psicodélica são usadas altas doses (250 mg de LSD), para criar uma “experiência avassaladora e transcendente”, com o objetivo de obter novos insights sobre a condição do paciente. A psicoterapia assistida por psicodélicos consiste em três sessões que são preparatórias, medicamentosas e de integração. O objetivo destas três partes é preparar os pacientes para as sessões psicodélicas, estabelecer a aliança terapêutica com segurança e converter o processo dessa experiência em uma mudança significativa e duradoura. 

Os psicodélicos têm sido usados ​​em rituais xamânicos há séculos e provou sua eficácia como um medicamento robusto. Estudar drogas psicodélicas para o tratamento da depressão pode ser visto como um tabu porque não há descrição completa das mudanças neurobiológicas na mente humana, na percepção, no humor e no comportamento. 

No entanto, a aprovação da psilocibina, pela FDA, para o tratamento da depressão, mostrou que ela pode ser usada como um medicamento potencial para transtornos mentais, apesar de haver muito mais estudos observacionais sobre LSD e ayahuasca, há evidências que seus efeitos terapêuticos, em vários transtornos mentais, são fortemente promissores para o futuro. 

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Fonte: ChatGPT

Referências: HUSAIN, Muhammad Ishrat et al. Serotonergic psychedelics for depression: What do we know about neurobiological mechanisms of action?. Frontiers in Psychiatry, v. 13, p. 1076459, 2023.

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