BC Protege+ bloqueia quase 7 mil contas fraudulentas

Em um cenário onde fraudes financeiras e roubo de identidade se tornaram ameaças cotidianas, o Banco Central do Brasil acaba de colocar em operação uma ferramenta que promete mudar o jogo a favor do cidadão. Batizada de BC Protege+, a nova barreira digital impediu, em sua primeira semana de funcionamento, 6.879 tentativas de abertura de contas bancárias fraudulentas. Os dados, coletados até as 16h15 de sexta-feira (5), mostram a dimensão do problema que o sistema começou a combater.

Lançado na última segunda-feira (1º), o serviço gratuito já conta com 238,6 mil adesões de pessoas físicas e jurídicas que decidiram travar, preventivamente, a criação de contas em seu nome sem autorização. No mesmo período, instituições financeiras realizaram a consulta obrigatória ao sistema em 5,2 milhões de ocasiões, um volume que surpreendeu os analistas do próprio BC e evidencia a integração rápida do mecanismo no cotidiano do sistema financeiro.

Como uma “lista de bloqueio” voluntária funciona

O BC Protege+ opera como uma camada adicional de segurança, uma espécie de “lista de bloqueio” voluntária mantida pelo Banco Central. Quando um banco, fintech ou qualquer instituição autorizada vai abrir uma conta corrente, poupança ou conta de pagamento pré-paga, ela é obrigada a consultar o sistema. Se o CPF ou CNPJ do titular estiver registrado com a “proteção ativa”, a abertura é automaticamente barrada.

“O objetivo é fechar uma porta largamente utilizada por golpistas e organizações criminosas”, explica a economista Camila Faria, especialista em segurança financeira. “Eles roubam ou clonam dados pessoais, abrem contas fantasmas e as usam para aplicar golpes, lavar dinheiro ou mascarar operações ilícitas. A vítima só descobre meses depois, quando seu nome aparece negativado ou em operações que nunca autorizou.”

A ferramenta é uma resposta direta ao crescimento exponencial desse tipo de crime. Dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) indicam que tentativas de fraude contra o sistema financeiro cresceram mais de 100% nos últimos dois anos, com as de falsidade ideológica (roubo de identidade) entre as mais comuns.

Aderir é simples, mas exige conta gov.br forte

Para ativar a proteção, o cidadão precisa acessar o site ou aplicativo Meu BC, na área logada. O requisito essencial é ter uma conta no gov.br com nível prata ou ouro, que exigem validação de documentos e, no caso do nível ouro, comprovação presencial ou por videoconferência. É necessário também ter a verificação em duas etapas habilitada.

Uma vez ativada, a escolha é comunicada automaticamente a todo o sistema financeiro. Se a pessoa precisar abrir uma conta legítima, basta acessar o mesmo canal e desativar a proteção temporariamente. O BC recomenda programar uma data para reativação automática, garantindo que o bloqueio seja restabelecido após o procedimento desejado.

“É um equilíbrio entre segurança e praticidade”, afirma Roberto Santos, diretor de Regulação do BC. “Damos ao cidadão o controle sobre quem pode abrir uma conta em seu nome. Ele trava tudo quando não tem necessidade e destrava de forma segura e auditável quando precisa. O sistema registra todas as ações, criando um histórico transparente.”

Impacto além dos números: uma mudança cultural

Analistas ouvidos pela reportagem veem o BC Protege+ como mais do que uma ferramenta técnica; tratam-se de um passo importante em uma mudança cultural na relação do cidadão com seus dados financeiros.

“Estamos migrando de um modelo reativo, onde a vítima corre atrás do prejuízo após a fraude, para um modelo preventivo e proativo“, avalia Fernanda Costa, coordenadora do Instituto de Defesa do Consumidor. “Empoderar o indivíduo com uma ferramenta oficial, gratuita e de fácil acesso é a estratégia mais eficaz contra esses crimes. O desafio agora é a inclusão digital, garantindo que todos os brasileiros, especialmente os mais vulneráveis, saibam e consigam usar esse recurso.”

O Banco Central já anunciou campanhas de comunicação em TV, rádio e redes sociais para divulgar a ferramenta. Parcerias com prefeituras, correios e bancos públicos também estão nos planos para facilitar o alcance do serviço.

Contexto de outras decisões do BC

A semana de lançamento do BC Protege+ foi marcada por outro anúncio significativo da autoridade monetária: a desistência da regulação específica do Pix Parcelado. Após meses de debate e adiamentos, a diretoria optou por não criar normas detalhadas para a modalidade, apenas proibindo o uso da expressão “Pix Parcelado” pelas instituições. Termos como “Pix no crédito” ou “Parcele no Pix” continuam permitidos.

As duas decisões, em áreas distintas, refletem a atuação do BC em dois fronts: um de forte regulação e intervenção para proteger o consumidor (como no caso do Protege+), e outro de maior liberalidade e autorregulação do mercado, quando julga que a concorrência e a maturidade do sistema são suficientes (como no Pix Parcelado).

Enquanto isso, para o cidadão comum, a recomendação é clara. “Se você não tem planos de abrir uma nova conta bancária nas próximas semanas, ative o BC Protege+ agora“, aconselha Camila Faria. “É cinco minutos que podem poupar meses de dor de cabeça, processos e possíveis prejuízos financeiros. É a sua identidade, é o seu nome. É fundamental protegê-los.”

O serviço já está disponível 24 horas por dia, sete dias por semana, no portal e no aplicativo do Banco Central.

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