A África do Sul é o mais “novo” país do BRICS a iniciar atividades de exploração espacial. Após os sucessos de outros membros, o país africano entra na corrida para melhorar a posição do grupo em terras lunares. Como o BRICS pode mudar o panorama da exploração espacial?
Para entender por que o país está voltando as suas atenções para o nosso satélite natural, o podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, conversou com Rafael Cuenca e Antonio Dourado, professores do curso de engenharia aeroespacial da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Após os recentes sucessos da Índia na exploração lunar, a África do Sul decidiu juntar-se, no mês passado, ao projeto de Rússia e China que visa à criação de uma estação conjunta na Lua. As agências espaciais chinesa e sul-africana assinaram um memorando de entendimento sobre a cooperação relacionada à estação internacional de pesquisa lunar, o que significaria a participação oficial da África do Sul no programa.
A criação da estação científica lunar conjunta, entre Rússia e China, será realizada em duas etapas, de 2025 a 2035. A estação será composta por vários módulos e representará uma operação não tripulada a longo prazo, com a perspectiva de garantir a presença humana na Lua.
A África do Sul tem uma indústria aeroespacial que, historicamente, se desenvolveu na área de defesa. “Como na África do Sul a gente vê esse desenvolvimento na área militar, eu acho que é natural também a evolução dessa tecnologia, dessa capacidade para o setor espacial”, afirma o professor Rafael Cigena Cuenca.
Segundo o especialista, no passado, em meio a sanções econômicas devido ao Apartheid, “todo o desenvolvimento militar deles teve uma grande parcela de indústria nacional. A África do Sul nacionalizou muita tecnologia”.
“Eles desenvolveram tecnologia, eles têm tecnologia na área de foguetes, de sistemas aeroespaciais, sistemas aeronáuticos. Todo esse conhecimento e não só o conhecimento de projeto, mas empresas que fabricam esses componentes, são capacidades que são transferíveis para o setor espacial.”
Nova era na cooperação espacial internacional
Em outro recente desenvolvimento espacial, a Rússia abriu as portas para seus parceiros no BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), oferecendo a oportunidade de fazer parte de sua estação espacial.
A Rússia planeja lançar o primeiro módulo de sua estação orbital, apelidada de “Rusk”, em 2027, com a participação efetiva dos cosmonautas prevista para 2028. A conclusão de toda a construção está programada para 2032. Além dos países do BRICS, a Rússia convidou a Turquia a fazer parte deste programa espacial, que busca criar uma estação espacial de seis módulos e uma plataforma de serviço.
Esta iniciativa, segundo destacou Cuenca, se torna ainda mais significativa quando consideramos o cenário da Estação Espacial Internacional (EEI), que, atualmente, envolve países como os Estados Unidos, Canadá, Japão e a Agência Espacial Europeia, juntamente com a Rússia. A EEI está prevista para ser descomissionada entre 2028 e 2030, o que torna a estação russa uma alternativa importante no cenário espacial global.
”A Rússia já planejava sair antes da estação, em torno de 2025. Com a guerra da Ucrânia no passado, a gente viu essas tensões meio que retomarem a discussão da saída da Rússia. Então, a Rússia já tinha um plano para uma estação espacial nova a partir de 2025 e houve um atraso”, sublinha o especialista.
A proposta da Rússia para os países do BRICS é que eles colaborem na construção de um dos módulos da nova estação. Em troca, esses países receberiam horas de utilização da estação, o que seria benéfico para suas atividades espaciais, como pesquisa e lançamento de satélites. Atualmente, o Brasil aluga espaço na EEI por meio de parcerias com outros países, e essa oportunidade abriria novas possibilidades para o país no espaço sideral.
”Essa oferta da Rússia representa uma mudança significativa no panorama da exploração espacial e cria novas perspectivas para os países do BRICS, especialmente o Brasil, que agora tem a chance de uma maior participação na pesquisa e exploração espacial. O lançamento do primeiro módulo em 2027 marca o início de uma nova era na cooperação espacial internacional”, crava Rafael Cuenca.
O espaço no nosso cotidiano
O professor Antônio Dourado, coordenador do curso de engenharia espacial da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), destacou a crescente relevância do espaço e da exploração espacial no contexto atual. Ele ressaltou que, à medida que os países desenvolvem tecnologias avançadas, buscam expandir sua influência e oportunidades de mercado, não apenas na Terra, mas também no espaço.
Segundo reforça o especialista, a tecnologia espacial desempenha um papel fundamental nesse processo, pois é usada em diversas áreas, incluindo defesa, comunicações e monitoramento ambiental.
“A tecnologia espacial faz parte dessa estratégia de desenvolver, seja para aplicações de defesa, seja para comunicações, seja para aplicações de monitoramento ambiental. Então isso serviu por muitos anos para os Estados Unidos, para a Rússia e, em escala menor, para a China”, reforça Dourado.
Em uma era em que a comunicação instantânea é essencial, os satélites desempenham um papel crucial. Eles tornam possível a transmissão de informações por meio de serviços de mensagens instantâneas, por exemplo, garantindo que possamos nos comunicar e acessar informações em tempo real, independentemente da distância geográfica. Essa conectividade global é um exemplo concreto de como o espaço já faz parte de nosso dia a dia.
“Com o desenvolvimento da economia chinesa e os outros países do BRICS, é um movimento natural que esses países também busquem esse desenvolvimento na área espacial porque o espaço também não é tão claro. Quando a gente analisa de forma superficial, a gente acha que é só defesa, e, na verdade, é uma indústria muito promissora. Então esse bloco do BRICS vem fazer contraponto aos Estados Unidos e ao bloco europeu, justamente essa disputa pelo domínio das relações internacionais que afetam o comércio dos países”, enfatiza.
FONTE: sputnik
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É uma notícia muito interessante e relevante para o Brasil e os outros países do BRICS, que são os principais emergentes na área espacial.
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