Filindeu a arte ancestral que resiste ao avanço da tecnologia há 300 anos

Em um mundo dominado por impressoras 3D e inteligência artificial, existe um prato que permanece intocado pela modernidade: o filindeu, ou “fios de Deus”. Trata-se de uma massa artesanal feita exclusivamente por três mulheres da mesma família na Sardenha, Itália — um verdadeiro mistério até para os especialistas mais avançados em tecnologia.

Com apenas três ingredientes — sêmola dura, água e sal —, o filindeu parece simples, mas seu preparo demanda extrema precisão, habilidade e, acima de tudo, uma herança que atravessa gerações há mais de 300 anos.

A massa é cuidadosamente transformada em 256 fios finíssimos, tão delicados quanto cabelos humanos, que se entrelaçam formando discos rendados, deixados ao sol para secar. O segredo está no toque, na textura, na sensibilidade — algo que nem mesmo os sensores mais sofisticados conseguiram reproduzir.

Uma tradição que corre risco de desaparecer

A origem da receita remonta ao século XVII, quando um habitante local fez uma promessa a São Francisco de Assis. Em sinal de devoção, construiu um santuário na cidade de Lula, que atrai milhares de peregrinos todos os anos — não só pela fé, mas também pela recompensa no final da caminhada: uma tigela quente de caldo de carne de ovelha, queijo pecorino e o raro filindeu preparado pela família Abraini.

Mesmo renomados chefs e empresas como a Barilla, que criou uma impressora 3D capaz de produzir massas complexas, fracassaram ao tentar replicar o filindeu. Câmeras de alta velocidade, sensores e análises detalhadas não foram suficientes. Como afirma Paola Abraini, uma das guardiãs dessa tradição: “O segredo está nas minhas mãos.”

Com o perigo da extinção se aproximando, a família luta para manter viva essa arte. Paola permitiu que seu método fosse filmado, e suas sobrinhas já ministram oficinas para ensinar o filindeu, com uma condição clara: respeitar a receita e honrar suas origens sagradas.

Em uma época em que quase tudo pode ser automatizado, o filindeu permanece como símbolo do que nenhuma máquina é capaz de oferecer: a alma, a história e o toque humano de séculos de dedicação.

Fonte: br.ign.com