Hebraico: a língua que ressuscitou depois de 2 mil anos

Tido como uma língua morta por muitos séculos, o hebraico “voltou à vida” no século passado. É fato que a ressurreição da língua hebraica é um caso único na história das línguas. O que ninguém fala, com exceção de nós da Escola de Lucifer, é que a cristandade, que agiu através da nações, foi essencial para que a ressurreição do hebraico acontecesse. Nessa matéria estudaremos como todo esse processo histórico do hebraico se deu. Depois de ler a matéria, veja o material complementar onde há uma aula inédita sobre o hebraico, sua essência e ligação com a Kabbalah.

O hebraico é uma língua milenar, que foi usada pelos antigos israelitas e pelos povos vizinhos do entorno da Palestina. A origem da língua remonta a desdobramentos desde a Torre de Babel até Abraão. Apesar da antiga origem, o hebraico sempre foi vivo e, como toda língua, sofreu influências e mudanças ao longo da história. O hebraico, língua original da Torah, tem um alfabeto de 22 letras que se escreve da direita para a esquerda, não tem vogais escritas. Repare na diferença do alfabeto do hebraico antigo em comparação ao moderno:

Hebraico antigo

Hebraico hoje

A morte do hebraico

Muitos foram os desdobramentos que ocorreram, resultando na morte da língua hebraica. A partir do século VI a.C., com a conquista do império babilônico sobre Israel, o hebraico foi gradualmente suplantado e substituído no uso diário pelo aramaico, língua formal da Babilônia. Apesar do esforço de alguns rabinos em preservar o hebraico como língua litúrgica e literária, pelos seguintes séculos, o aramaico tornou-se a língua vernácula dos judeus. Com a destruição de Jerusalém e do Segundo Templo, no ano 70 d.C., os judeus começaram gradualmente a dispersar-se da Judeia para o resto do mundo conhecido à época. A Diáspora Judaica, somada a outros desdobramentos, como a Bar Kokhba por volta de 135 d.C., foi a principal responsável pela morte da língua. O hebraico foi considerado extinto como uma língua falada regularmente pelo século IV d.C.

A língua não foi usada no cotidiano por aproximadamente 2 300 anos, ou seja, foi considerada uma língua morta, assim como o latim. Contudo, os rabinos sempre dedicaram muito esforço para manter altos níveis de alfabetização entre eles, com o principal propósito de manter a tradição e a originalidade dos textos.

A mais importante contribuição para a preservação da leitura (sem pronúncia) do hebraico tradicional nesse período foi aquelas dos eruditos chamados massoretas (da palavra masoret, que significa “folclore” ou “tradição”), ocorrida a cerca do século VII ao século X. Os massoretas criaram algumas marcações suplementares para indicar a posição onde deveriam existir vogais, assim como a acentuação tônica e os métodos de recitação. Desse modo, os textos originais hebraicos que usavam apenas as consoantes passaram a contar com as vogais, entretanto, algumas consoantes foram usadas para indicar vogais longas. Na época dos massoretas esse texto era considerado muito sagrado para ser alterado, assim todas as marcações foram adicionadas na forma de diacríticos (pontinhos e pequenos traços) dentro e ao redor das letras.

A ressureição

No final do século XIX e início do século XX, surgiu um movimento nacionalista entre os judeus europeus, que defendia a ideia de restaurar uma nação judaica na Terra de Israel. (Esse é aquele movimento polêmico que todos nós conhecemos rs. Teoricamente, o movimento defendia somente que os judeus pudessem ter uma pátria própria, onde pudessem viver em paz e segurança, mas sabemos que, na verdade, ele envolve muitas coisas além disso; leia os livros Lucifer e Israel para compreender tudo sobre). Um dos desafios desse movimento era escolher uma língua comum para os judeus que imigrassem para a Terra de Israel. Havia várias opções, como o iídiche, o ladino, o alemão ou o francês. Mas Eliezer Ben-Yehuda, o linguista que reconstruiu a língua hebraica, criando o que conhecemos como o hebraico moderno, tinha uma visão diferenciada. Ele acreditava que o hebraico deveria ser a língua nacional dos judeus, pois era a língua original do povo.

Eliezer Ben-Yehuda nasceu em 1858 na Bielorrússia, que na época fazia parte do Império Russo. Ele estudou em uma escola rabínica, onde aprendeu o hebraico clássico. Em 1881, ele decidiu imigrar para a Terra de Israel, que na época era dominada pelo Império Otomano. Ele se estabeleceu em Jerusalém, onde começou sua missão de reviver o hebraico como uma língua falada. Ele se impôs a regra de falar apenas hebraico com qualquer judeu que encontrasse, e exigiu que sua esposa e seus filhos fizessem o mesmo. Ele também incentivou outros imigrantes a adotarem o hebraico como sua língua cotidiana.

Ben-Yehuda enfrentou muitas dificuldades e resistências em seu projeto. Muitos judeus ortodoxos consideravam um sacrilégio usar o hebraico para assuntos mundanos. Mesmo assim, Ben-Yehuda se dedicou a criar novas palavras e expressões para adaptar o hebraico às necessidades da vida moderna. Ele usou como base as raízes do hebraico clássico, também incorporando elementos de outras línguas semíticas, como o aramaico e o árabe, e línguas europeias, como o iídiche e o ladino. Ele também fundou um jornal em hebraico, chamado HaZvi, onde divulgava suas ideias e suas invenções linguísticas, e também iniciou a elaboração de um dicionário abrangente da língua hebraica, que foi concluído por seus discípulos após sua morte.

Ben-Yehuda conseguiu muitos seguidores e colaboradores, que formaram o movimento da renascença hebraica. Eles fundaram escolas, bibliotecas, teatros e associações culturais em hebraico. Eles também criaram uma organização para regular e padronizar a língua hebraica, chamada de Academia da Língua Hebraica. Eles lutaram pelo reconhecimento do hebraico como uma das línguas oficiais do Mandato Britânico da Palestina, que substituiu o domínio otomano após a Primeira Guerra Mundial.

Primeiro Comitê (Academia) de Linguagem Hebraica em Jerusalém, 1912

Adormecido por milênios, o hebraico carecia de muitas palavras novas. Por isso, Ben-Yehuda e a Academia fizeram um dicionário: O Dicionário Completo de Hebraico Antigo e Moderno. Hoje em dia, o hebraico conta com várias palavras emprestadas de outras linguas, como é o caso de palavras como טלפון נייד (celular, pronuncia-se “telefon nayad”) e טלוויזיה (televisão, pronuncia-se “televizya”), duas palavras modernas.

O hebraico se tornou a língua oficial do Estado de Israel, fundado em 1948, após a aprovação do Plano de Partilha da ONU, passando a ser a língua comum dos israelitas, de diversas origens e falavam diversas línguas. Todo esse movimento de restauração, tanto de Israel como um país quanto do hebraico como língua, só foi possível graças à cristandade e aos países cristãos que sempre ajudaram os judeus e deram o suporte necessário para tal. Israel deve muito a Cristo.

Hoje, o hebraico é uma língua viva, sendo uma língua de expressão artística, científica e política de Israel, que continua se desenvolvendo e se enriquecendo com novas palavras e expressões. O hebraico é falado por cerca de 9 milhões de pessoas no mundo, sendo a maioria em Israel, mas também em comunidades judaicas na diáspora.

Veja também:

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Mateus Oliveira

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A Loucura anda de mãos dadas com a Coerência

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