Salve galera, continuando aqui a descrever histórias e arqueologia de “contos” antigos, caso não tenham visto o anterior :
O flautista de Hamelin – Alemanha
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A história de Robin Hood :
Com mais de 600 anos, o fora da lei corajoso e benfeitor ainda inspira superproduções cinematográficas.
Num bosque particular junto à mansão Kirklees, em Dewsbury, no condado britânico de Yorkshire, os visitantes deparam com um monumento quebrado: protegida por um cercadinho de ferro, a lápide contém um epitáfio de causar taquicardia nos interessados:
A fama do bandido benfeitor prospera desde meados do século 14, a partir de poemas, baladas e contos. Robin promovia uma campanha de roubos espetaculares a viajantes na floresta de Sherwood, em Nottingham (no condado vizinho a Yorkshire), e repartia o butim com os mais pobres, desafiando a autoridade do príncipe e depois rei João I (um dos mais controversos monarcas ingleses, que comandou a nação entre 1199 e 1216) e a do tirânico xerife local.
Mas os turistas que fotografam o túmulo do arqueiro (gravado em inglês arcaico e datado de 1247) só podem estar certos de levar para casa o suvenir e uma suposição.
A lápide foi erguida no século 18, baseada no marco construído no ponto onde teria caído a última flecha disparada pelo herói agonizante, vítima da traição da prima, madre superiora do antigo convento de Kirklees.
Uma versão da trama é narrada em As Aventuras de Robin Hood (1883), escrito e ilustrado por Howard Pyle. Doente, o arqueiro procurou tratamento médico contra uma febre persistente.
A freira, porém, aplicou-lhe uma sangria fatal, interessada em agradar ao rei João. Como assim? O monarca não morreu em 1216, três décadas antes? Sim, morreu, e de forma bem pior que seu arqui-inimigo: definhou com disenteria.
Além do bosque em Dewsbury, há várias teses distintas sobre o local da sepultura, a terra natal ou a real identidade de Robin. É por essas e muitas outras que rastrear as pegadas do fora da lei mais amado da literatura pode ser um feito comparável a suas incríveis e ousadas peripécias.
Mais de meio milênio após as primeiras citações conhecidas a seu nome, é inegável o fascínio que Robin Hood ainda provoca. Seja como metáfora para identificar medidas de redistribuição de renda, seja para apelidar iniciativas de banditismo social.
O homem e a lenda
As primeiras pistas sobre o arqueiro indicam que seu nome, originalmente, referia-se mais a um arquétipo que a um sujeito em especial. Segundo o historiador James Clarke Holt, um dos maiores especialistas no medievo britânico, variações como “Robehod”, “Hobehod”, ou “Robert Hod, fugitivo” aparecem nos registros legais de algumas comunidades inglesas, em diferentes partes do país, já na primeira metade do século 13.
Holt sustenta que isso indicaria o uso da figura para descrever comportamento criminal. Num desses registros, na documentação de Yorkshire referente a 1225/1226, Robert Hod é identificado como um inquilino do arcebispo de York, a quem devia dinheiro.
Na literatura, Robin foi citado inicialmente em 1377, no poema Piers Plowman, de William Langland. Trata-se de menção curta. Ele só vira protagonista na balada Robin Hood and the Monk (“Robin Hood e o Monge”), de 1450, já com o xerife de Nottingham como rival imediato e ambientada em Sherwood.
O primeiro registro impresso preservado data de 1475: a coleção de histórias The Adventures of Robyn Hode (“As Aventuras de Robyn Hode”), que delineia seu comportamento heroico. Nas contas das crônicas medievais, da tradição oral e escrita, o bando do arqueiro tinha um efetivo de 20 a 140 homens, com destaque para João Pequeno (seu mais fiel companheiro, de quase 2 metros de altura) e o frei Tuck, um padre bonachão e rebelde.
O grupo foi se juntando aos poucos. Ele próprio, segundo uma das versões recorrentes, caiu na contravenção quase por acaso. Aos 18 anos, saiu da cidade natal de Loxsley para atender a um concurso de arco e flecha promovido pelo xerife de Nottingham.
O prêmio: um barril de cerveja. Eis que na trilha encontrou 15 guardas florestais comendo e bebendo. “Ora, moleque, o leite da tua mãe mal secou em teus lábios e queres te colocar com arqueiros valentes nos campos de Nottingham, tu, que mal és capaz de esticar a corda de um arco de dois tostões?” À provocação do guarda, ele respondeu com um desafio.
Receberia 20 moedas se acertasse um cervo a mais de 250 metros de distância. Os oficiais aceitaram a aposta e, estupefatos, assistiram-no atingir o alvo. O mais ébrio do destacamento, porém, se recusou a quitar a dívida e tentou eliminar Robin com uma flechada pelas costas.
Ele respondeu com outra, esta mortal. A partir daí, aplicava sua própria lei na floresta. Bom, isso segundo a narrativa adocicada de Howard Pyle do fim do século 19. Em textos anteriores, não sobra um guarda sequer para contar a história.
Nas antigas descrições, Robin aparece ora ao lado dos comparsas, ora sozinho na mata. Varia de comportamento e tática, alternando-se entre bandido cruel (capaz de decapitar os inimigos e exibir as cabeças como troféus) e astuto, como exemplo das narrativas que pintam o arqueiro mais agressivo são resultado de um contexto social turbulento.
A Inglaterra do século 14 é marcada pela devastação causada pela Peste Negra e pelo ônus da Guerra dos Cem anos contra a França. Havia ainda tensões internas devido ao crescente descontentamento com as condições de servidão feudal, o que resultaria na Revolta dos Camponeses (1381), principal insurreição inglesa. O estopim foi a criação de um novo imposto de 5 centavos de moeda por cabeça.
No século 16, porém, o perfil de Robin passa por uma espécie de suavização. Ele aparece nas crônicas como um nobre (barão) desterrado e renegado defendendo o poder de Ricardo Coração de Leão (que reinou entre 1189 e 1199) do usurpador príncipe João (quando seguiu para lutar na Terceira Cruzada, Ricardo deixou o irmão no comando de condados como Nottinghamshire).
O arqueiro vira um bandido conservador – vítima dos abusos do xerife local e do príncipe, que lhe cassaram direitos -, que defendia a estrutura tradicional de poder. “A partir do século 17 surgem representações intercaladas e mesmo versões com um Robin pós-Reforma, inimigo da Igreja. O mais interessante é que ele se tornara um símbolo em momentos de opressão popular promovidos por reis absolutistas e nobres inescrupulosos ou resultado das agruras do capitalismo”.
Thomas Hahn, professor da Universidade de Rochester e um dos fundadores da Associação Internacional de Estudos sobre Robin Hood, insiste que a popularidade do personagem cresce no mesmo ritmo que a frustração da massa com a vida na sociedade capitalista.
A lenda, diz ele, passa por um boom nos séculos 16 e 17, nos primórdios do sistema de acumulação de capitais. A difusão da imprensa de Gutenberg ajuda a alimentar o fenômeno: em 1601, havia pelo menos 200 menções ao fora da lei em poemas, contos e peças.
Nesse período, os agricultores enfrentavam o “fechamento” dos campos, cercados para reforçar a produção de lã, que se transformara no principal produto exportado pelos ingleses – e que formaria os alicerces da Revolução Industrial, em meados do século 18.
Uma horda de sem-terra se misturava com outra sofrendo com o aumento dos aluguéis rurais, o que levou a uma série de minirrevoltas agrárias justamente nos séculos 16 e 17.
A mudança de sentido conforme a mudança dos séculos :
Tendo cada civilização aumentado um ponto ao longo de muito tempo a inclusão de Lady Marian, por exemplo, a amada do arqueiro surge em antologias de cantigas populares publicadas por volta de 1750, na forma de uma espadachim valente, e logo após é colocada como dama submissa na literatura do período vitoriano.
No século 19, Robin Hood ganha contornos patrióticos, torna-se personagem de Ivanhoé (1819), metido nas brigas entre saxões e normandos (pendendo para a tradição anglo-saxônica) na trama ambientada no fim do século 12.
O romance do escocês Walter Scott reacendeu o interesse dos britânicos pelo período e criou uma “nova vida” para o arqueiro. “O apelido de Robin Hood vem de desejos primários por justiça e igualdade.
Na Inglaterra medieval, era melhor sonhar que cumprir as árduas e longas jornadas de trabalho no campo. Havia ainda os caprichos dos senhores feudais ou do soberano da vez (somadas as citações e referências históricas, o fora da lei teria atuado sob pelo menos cinco monarcas diferentes). Entre todos, a personificação do mal é João I; Não só porque tentou puxar o tapete do irmão.
Sofreu derrotas militares e se envolveu numa desastrada queda de braço com Roma, o que resultou em prejuízos financeiros compensados com aumentos de impostos. Já o protótipo de rei justo, por quem Robin a certa altura admite até abandonar a marginalidade (e lutar na cruzada), é Ricardo I.
Por si sós as florestas tentavam a imaginação popular. Estavam legalmente reservadas às caçadas da realeza. A punição para invasores incluía castigos como mutilações, bastava ser flagrado perto de animais.
Natural, então, que houvesse extremo ressentimento contra o código florestal e certa adoração àqueles capazes de burlar o sistema. As matas, claro, eram refúgio preferencial de bandidos.
Estudiosos encontram fontes de inspiração para o arqueiro nas histórias de alguns fora da lei e figuras históricas como William Wallace, herói escocês, ex-proprietário de terras que seria um dos líderes da 1ª Guerra de Independência (1296-1328). Há comparações desde o século 15. “São semelhanças fabulosas. Wallace e Robin, por exemplo, vestem-se de mulher para escapar dos inimigos numa de suas aventuras.
Ambos roubavam e matavam nas estradas e lutavam contra o imperialismo inglês. Uma pista está na idealização de Robin como alguém disposto a brigar contra um rei usurpador, atrás de unidade nacional, o que tem muita semelhança com a realidade medieval escocesa ao invés da inglesa.
John Paul Davis publicou um livro sustentando que Sherwood foi escolhida por Robin e seu bando como morada porque eles seriam templários. Viviam escondidos para se proteger da determinação papal de exterminar os membros da ordem de cavalheiros que caíra em desgraça depois de se transformar numa poderosa organização militar.
Os templários foram dissolvidos no início do século 14 e o então monarca inglês, Eduardo II, não costumava persegui-los como os colegas do continente. Para Davis, o arqueiro era mais sofisticado que um bandido comum. “A perseguição aos templários fez com que milhares de homens se transformassem em fugitivos da noite para o dia.
Conformavam-se em viver nos bosques da Inglaterra e, lá, mantinham o senso de organização militar e de orientação para o bem dos cavalheiros”, diz o historiador.
“O simples fato de ainda haver estudos sobre Robin é mais relevante que a discussão sobre o que é falso ou verdadeiro. Os nomes dele e do rei Arthur(outro considerado conto que também farei post futuramente) são os únicos de existência histórica não-comprovada que estão no dicionário biográfico da Universidade de Oxford”, afirma Luxford.
Para Stephen Knight, a autenticidade está justamente na dúvida: “Ele não precisa ter sido de carne e osso. Sua sobrevivência como construção cultural que resistiu por séculos lhe garante existência. Nesse sentido, Robin Hood vive”. – bem conscienciológico não?
Luz P’ra Nós!
Luz p’ra nós!
Muito legal.
Luz p´ra nós
Gratidão.
Luz p’ra nós!
Luz p’ra nós!
Luz p’ra nós irmão !
Luz pra nós!
Gostando dessas histórias irmão
🤗📚🪄
luz p’ra nós
Muito bom. Se olharmos consciencialmente, essas histórias sempre têm uma base binária. LPN!
Eu só conhecia por nome…
Luz pra nós
#LuzPraNos
Luz p’ra nós!
Luz p’ra nós!
Luz p’ra nós!
Luz p´ra nós!
Não tem como ler sobre um arqueiro e não lembrar da Casa Hu kkk
Tem um vídeo do Bob falando sobre esse arquétipo, bem legal!
Gratidão pelo post 🙏🏾⚛️
Luz p’ra nós 🙏🏾⚛️✅⚠️💥
Luz p’ra nós!