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Em seu maravilhoso livro O que Ă© vida? O aspecto fĂsico da cĂ©lula viva, o fĂsico austrĂaco Erwin Schrödinger (1887-1961) refere-se aos organismos multicelulares como a âmais requintada obra-prima jĂĄ conseguida pelas leis da mecĂąnica quĂąnticaâ. Frente a recentes observaçÔes de efeitos quĂąnticos na natureza e em seres vivos, nĂŁo podemos deixar de apreciar o carĂĄter premonitĂłrio da sua frase.
O tunelamento quĂąntico, tema explorado e explicado na Ășltima coluna, estĂĄ indiscutivelmente presente em processos bioquĂmicos e Ă© consequĂȘncia da dualidade partĂcula-onda, um dos grandes mistĂ©rios da natureza para o fĂsico estadunidense Richard Feynman (1918-1988).
Outro fenĂŽmeno que se vale da dualidade partĂcula-onda Ă© o emaranhamento ou entrelaçamento quĂąntico, o fermento de um intenso debate na comunidade cientĂfica a respeito de sua observação em sistemas biolĂłgicos. Trata-se de uma propriedade ainda mais complexa e menos intuitiva do que o tunelamento e de cujo controle depende, por exemplo, o desenvolvimento da computação quĂąntica.
Nas condiçÔes em que a matĂ©ria deve ser tratada sob a Ăłtica da teoria quĂąntica, cada partĂcula (elĂ©tron, prĂłton, ĂĄtomos, entre outras) Ă© caracterizada por um conjunto de propriedades, intrĂnsecas (spin) ou circunstanciais (por exemplo, posição, velocidade e interação com outras partĂculas). Tais propriedades determinam o que se denomina de estado ou nĂvel quĂąntico, geralmente representado em termos de energia.
Quando duas dessas partĂculas interagem (nĂŁo interessa aqui a que tipo de interação nos referimos), os dois estados quĂąnticos se misturam, resultando em um novo estado composto pelas duas partĂculas (vamos supor o caso simples de apenas duas partĂculas). Tecnicamente se diz que houve uma superposição dos estados das partĂculas individuais.
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PartĂculas emaranhadas
Quando duas partĂculas estĂŁo emaranhadas, elas perdem suas caracterĂsticas individuais e passam a funcionar como um Ășnico sistema. Se nĂŁo houver ruĂdo, a interação continua mesmo quando estĂŁo separadas por longas distĂąncias.
Esse estado composto, ou emaranhado, Ă© tal que as informaçÔes individuais das partĂculas sĂŁo perdidas. O emaranhado quĂąntico representa o conjunto e reflete apenas as correlaçÔes entre os seus componentes. O que diz a teoria quĂąntica Ă© que essa correlação continua mesmo depois que as partĂculas sĂŁo separadas. Uma tese bem conhecida e controvertida Ă© de que a correlação Ă© preservada mesmo que a separação seja infinita.
A propriedade necessĂĄria, mas nĂŁo suficiente para a existĂȘncia do emaranhado, Ă© essa correlação quĂąntica. O problema Ă© que a correlação ou coerĂȘncia quĂąntica Ă© muito instĂĄvel, depende fortemente da temperatura e do meio ambiente, que geralmente funciona como um sistema ruidoso.
De modo um tanto ingĂȘnuo, podemos dizer que o aumento de temperatura ou do nĂvel de ruĂdo provoca a perda do estado de coerĂȘncia quĂąntica, fazendo desaparecer o emaranhado. Essa grande sensibilidade tem sido a principal barreira para o aproveitamento tecnolĂłgico do emaranhado quĂąntico.
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Emaranhamento na fotossĂntese
Compreender a razĂŁo da grande eficiĂȘncia da conversĂŁo da energia solar em energia quĂmica no processo da fotossĂntese tem sido um desafio permanente enfrentado por pesquisadores de diferentes ĂĄreas do conhecimento (Leia a coluna O big bang da evolução).
HĂĄ menos de uma dĂ©cada, medidas Ăłticas ultrarrĂĄpidas realizadas por pesquisadores do Instituto Max Planck, na Alemanha, e da Universidade de Leiden, na Holanda, liderados por V. I. Prokhorenko, evidenciaram a existĂȘncia de coerĂȘncia quĂąntica na fotossĂntese, motivando uma sĂ©rie de experimentos com diversos materiais biolĂłgicos e especulaçÔes sobre a existĂȘncia de emaranhado quĂąntico em circunstĂąncias atĂ© entĂŁo consideradas improvĂĄveis â por exemplo, em temperatura ambiente, que Ă© considerada muito alta, e em um ambiente claramente ruidoso.
Enzimas em materiais fotossintetizantes teriam passado por um processo evolutivo para fazer uso eficiente da energia solar por meio de processos quĂąnticos
O debate ficou mais acirrado quando uma hipĂłtese ainda mais controvertida foi levantada por alguns pesquisadores, entre os quais a quĂmica Judith Klinman, da Universidade da CalifĂłrnia, em Berkeley, Estados Unidos, e uma das pioneiras no estudo de tunelamento quĂąntico em proteĂnas: as enzimas nesses materiais fotossintetizantes teriam passado por um processo evolutivo para fazer uso eficiente da energia solar por meio de processos quĂąnticos.
Os opositores da hipĂłtese, como o quĂmico Gregory Scholes, da Universidade de Toronto, CanadĂĄ, afirmam que os mecanismos quĂąnticos nĂŁo passam de um acidente no modo como essas molĂ©culas atuam. Ou seja, os organismos escolheriam rotas diferentes por acaso e nĂŁo porque essa ou aquela sĂŁo mais eficientes. Na verdade, Scholes afirma que nĂŁo hĂĄ dados experimentais suficientes sequer para se levantar a questĂŁo.
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CoerĂȘncia prolongada
Outro mistĂ©rio biolĂłgico que parece começar a ser desvendado com o uso da teoria quĂąntica Ă© a influĂȘncia do campo magnĂ©tico no processo de orientação e navegação de aproximadamente 50 espĂ©cies animais, como das formigas, raposas, gado e pombos-correios.
O objeto aqui é bem diferente dos materiais fotossintetizantes, mas por trås do processo hå algo em comum, que é a separação de cargas induzida pela absorção da luz solar na retina dos animais. Essa absorção resulta na liberação de um par de elétrons.
Como os elĂ©trons estĂŁo em ambientes ligeiramente diferentes, eles tĂȘm seus spins orientados diferentemente. Esses estados de orientação dependem da inclinação das molĂ©culas na retina em relação ao campo magnĂ©tico terrestre. Portanto, o processo de fotoionização resulta em um par de elĂ©trons com spins correlacionados.
Campo magnético da Terra
O campo magnĂ©tico da Terra, que protege a superfĂcie do planeta das partĂculas carregadas do vento solar, influencia a orientação de vĂĄrias espĂ©cies de animais. A causa ainda Ă© um mistĂ©rio, que começa a ser desvendado pela mecĂąnica quĂąntica. (foto: Nasa)
Estudos teĂłricos recentes, realizados por pesquisadores da Universidade de Oxford e da Universidade Nacional de Singapura, liderados por Simon Benjamin, tĂȘm mostrado que esse estado de correlação ou coerĂȘncia quĂąntica tem se mantido por intervalos de tempo da ordem de centenas de microssegundos, algo inimaginĂĄvel. Estimativas teĂłricas atĂ© o momento nĂŁo passavam da ordem de um microssegundo.
Qualquer que seja o resultado do debate em torno do processo evolutivo das enzimas dos materiais fotossintetizantes e da orientação magnética de animais, o fato importante que aparentemente todos concordam é que fenÎmenos genuinamente quùnticos desempenham papel preponderante em alguns processos biológicos.
FenĂŽmenos genuinamente quĂąnticos desempenham papel preponderante em alguns processos biolĂłgicos
HĂĄ quem acredite que a computação quĂąntica poderĂĄ avançar a partir de uma compreensĂŁo mais profunda do processo de transmissĂŁo de energia na fotossĂntese e do mecanismo de proteção utilizado pelos pĂĄssaros para aumentar o tempo de coerĂȘncia quĂąntica.
Aprender com a natureza é um desejo e uma busca do homem desde tempos imemoriais. Mas agora essa espécie de simbiose quùntico-biológica parece atingir um estågio antes inimaginado.
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Fonte: INSTITUTO CIĂNCIA HOJE
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GratidĂŁo pelo post irmĂŁo! DĂĄ hora!
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Daora. Valeu pelo post!
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