Arquitetura – Técnicas e matéria – Parte 1

Salve EDL,

Hoje exploraremos o conceito de bioarquitetura, que visa a integração e preservação do meio ambiente, utilizando técnicas construtivas adaptadas ao contexto da construção. Nessa abordagem, a natureza desempenha um papel central, assim como a relação entre o homem e o ambiente natural. O foco é minimizar ao máximo o impacto ambiental. Inspirada nos métodos tradicionais de construção de diversos povos ao redor do mundo, a bioarquitetura também contribui para preservar a cultura e a história de cada região. Por isso, é comum que as construções bioarquitetônicas apresentem características estéticas e estruturais distintas, refletindo sua localização geográfica. Assim, a bioarquitetura transcende a simples construção, sendo uma expressão viva e dinâmica, repleta de narrativas.

A conexão profunda com a natureza e a busca pela harmonia entre construção e ecossistema são interpretadas como manifestações da presença de Deus na matéria e na natureza, como uma expressão tangível da espiritualidade humana e da reverência pelo divino que se revela na criação. Através dessa perspectiva entendemos a reponsabilidade da intervenção do ambiente em direção a uma compreensão mais profunda da sacralidade presente na interação entre o ser humano, a matéria e a natureza.

Design orgânico

As formas naturais e orgânicas, sempre presentes e inspiradas na própria natureza, são uma característica marcante desse tipo de arquitetura. No contexto bioarquitetônico, o design da construção se integra de forma harmoniosa com o ambiente circundante, estabelecendo um mimetismo que abrange não apenas as formas, mas também as cores e texturas. Além disso, tais formas proporcionam oportunidades construtivas inovadoras, permitindo explorar ao máximo as propriedades dos materiais utilizados, resultando em estruturas que se fundem de maneira fluida e natural com o entorno.

Aproveitamento integral da luz e da ventilação

Outra característica distintiva da bioarquitetura é o aproveitamento da luz e da ventilação, práticas que também encontram espaço no conceito de arquitetura moderna. Existem pelo menos duas razões principais para essa abordagem. Primeiramente, há a preocupação com a economia e o consumo consciente dos recursos, especialmente a energia elétrica. Além disso, a busca pelo conforto e bem-estar dos ocupantes é um fator determinante. A iluminação natural desempenha um papel crucial na regulação do ciclo circadiano humano, influenciando a produção adequada de hormônios como a melatonina e o cortisol. Ademais, a iluminação natural reduz a necessidade de utilizar energia elétrica em lâmpadas, enquanto a ventilação natural elimina a dependência de sistemas de ar condicionado.

Horta orgânica

A bioarquitetura também está intrinsecamente ligada às hortas orgânicas e ao sistema de agricultura conhecido como permacultura. Isso se deve ao fato de que a bioarquitetura é holística, indo além da simples construção e envolvendo todos os aspectos do espaço habitado, inclusive a produção de alimentos para a família. Essa abordagem visa garantir que o impacto ambiental das atividades humanas seja reduzido ao máximo possível. Através de uma horta orgânica, é viável suprir uma parte significativa da demanda por alimentos, desde hortaliças diversas até frutas e legumes. Essa conexão mais estreita com a natureza não apenas beneficia os moradores locais, mas também toda a sociedade que sofre com os impactos dos grandes produtores agrícolas e da logística pouco sustentável na distribuição de alimentos. À medida que mais pessoas cultivam seus próprios alimentos, a natureza se regenera e beneficia a todos.

Materiais locais

Na bioarquitetura, a escolha dos materiais de construção é orientada pela abundância local, descartando a ideia de usar materiais importados que não sejam naturais na região. Isso implica que a casa será construída com base nos recursos mais disponíveis na área circundante. Essa abordagem valoriza não apenas as práticas construtivas regionais, mas principalmente o uso de matérias-primas abundantes localmente. O objetivo é não apenas reduzir os custos, mas também minimizar o impacto ambiental associado ao transporte de materiais de construção. Qualquer material que precise ser transportado acarreta um impacto negativo no meio ambiente, especialmente devido às emissões de carbono geradas pelos veículos de carga. Portanto, ao priorizar materiais locais, a bioarquitetura contribui para a redução das emissões de carbono e promove uma abordagem mais sustentável para a construção de habitações.