Pedro Kos é natural do Rio de Janeiro, o diretor e montador de 44 anos concorre na categoria melhor curta-metragem de documentário com “Onde eu moro”, filme co-dirigido por Jon Shenk e que está já disponível para streaming na Netflix.
Ele pretende ir à festa no próximo dia 27 com alguns dos personagens do filme.
(foto: Netflix/Divulgação)
Ronnie “Astaire do futuro” Willis tem formação clássica em balé e hoje vive na rua. Ele dança no Hollywood Boulevard para sobreviver
Uma noite por ano, Hollywood recebe todo o glamour do Oscar, mas sua Calçada da Fama é onde diariamente pessoas em situação de rua vão dormir. Esses mundos totalmente contrastantes se encontrarão no próximo dia 27, graças ao desejo dos diretores de um documentário sobre a crise dos sem-teto, indicado à estatueta, de convidar seus personagens para o tapete vermelho.
“Espero que no dia da cerimônia possamos mostrar um pouco dessa convivência e conscientizar sobre essa humanidade que está ali, literalmente do outro lado da rua, e que ignoramos há muito tempo”, disse o brasileiro Pedro Kos, codiretor do curta-metragem “Onde eu moro”. “Esperamos poder levar dois ou três deles conosco”, acrescentou seu parceiro na direção do filme, o americano Jon Shenk.
O documentário, disponível na Netflix, segue durante três anos várias pessoas desabrigadas e em situação de vulnerabilidade em Los Angeles, São Francisco e Seattle. Mostra de forma íntima suas rotinas e suas dificuldades nas ruas, assim como suas esperanças de sair delas.
DANÇA
Entre as pessoas que acompanham está Luis Rivera Miranda, um homem de meia-idade que tem um cachorro e que começa um romance com uma mulher também sem-teto; e Ronnie “Astaire do futuro” Willis, que dança na Hollywood Boulevard na frente de turistas como seu ganha-pão.
“Ele tem uma história extraordinária: alguém com formação clássica em dança que dançou com Janet Jackson, coreografou o sucesso ‘Thong song’”, de Sisqo, e “viveu tempos muito difíceis, infelizmente, por várias razões”, explicou Kos.
Segundo os cineastas, parte do problema é que muita gente vê as pessoas vivendo nas ruas de forma desumanizada e se convence de que elas são responsáveis por sua tragédia.
Ao abordar as causas que as empurraram para as ruas, o filme elenca vários fatores, como deficiências, rejeição de suas famílias por serem trans e depressão.
“Esperamos que o documentário possa fornecer uma nova perspectiva, que dê um rosto ao que está acontecendo”, disse Shenk. “Eles são americanos, são nossos vizinhos, têm direitos, são pessoas.”
Os diretores abraçaram seus personagens e ganharam sua confiança trabalhando com organizações de apoio aos moradores de rua.
ABRIGOS
Em vez de entrevistá-los diretamente, Shenk colocou sua câmera em abrigos onde pessoas ali atendidas participaram de entrevistas de “análise de vulnerabilidade”, e saiu da sala para permitir que discutissem mais livremente sua situação.
Shenk e Kos não propõem uma solução para esse problema, o que cabe às autoridades dos municípios, mas acreditam que simplificar a enorme burocracia dos programas sociais disponíveis para os sem-teto poderia ser um começo.
O documentário aponta que a política de não despejo adotada durante a pandemia da COVID-19 irá expirar em breve, possivelmente agravando ainda mais a crise.
“Não temos dúvidas de que estamos passando por uma gigantesca crise humanitária nos Estados Unidos”, ressaltou Shenk.
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