
A série Ruptura, da Apple TV, tem um tema central interessante ligado à filosofia: ela discute as relações de trabalho e as possibilidades de separação da vida pessoal e da profissional. Na história, os empregados de uma empresa ficcional chamada Lumon se submetem a um procedimento onde a sua consciência do trabalho e a de casa se separam.
Ao entrar na empresa, os funcionários sofrem uma “ruptura” em que não lembram nada de suas vidas durante o trabalho e, quando saem, as suas memórias pessoais voltam. A discussão trazida na série provoca uma reflexão sobre a criação de uma “nova pessoa” no ambiente de trabalho, que existiria quase como se fosse um escravo que só serve para produzir.
Muita gente que a assiste começa a refletir sobre a sua própria vida e sobre as separações entre ela e o trabalho — afinal, o ambiente profissional também é um local onde fazemos amigos. Mas Ruptura levanta questões da filosofia acerca de como lidamos com as nossas diferentes relações e nossos diferentes “eus”.
A questão da experiência segundo John Locke
Ruptura discute a ideia de que a experiência consciente de cada um faz parte da constituição de sua personalidade. Ou seja, não se lembrar de algo é também estar separado de si mesmo. Em certo momento, um funcionário da empresa Lumon diz que “a história nos torna alguém” — trazendo aqui uma conexão com o pensamento do filósofo John Locke, do século XVII.
Locke dizia que a “consciência sempre acompanha o pensamento, e isso é o que faz com que cada um seja o que chama de si mesmo”. Em outras palavras, o sujeito é aquilo sobre o qual tem consciência. Tudo o que somos e fazemos é o que lembramos — portanto, eu existo à medida que lembro conscientemente de minhas experiências.
Segundo esta perspectiva de Locke, a existência de uma separação total entre vida profissional e pessoal (a proposta de Ruptura) significaria que o indivíduo só existe quando esta separação cessa de existir.
A discussão trazida em Ruptura é sobre as consequências de “desligar” a vida pessoal no ambiente profissional, no intuito de que o estresse do trabalho não contamine a vida, e vice-versa; deste modo, ao sair do trabalho, eu poderia permanecer a mesma pessoa que eu entrei.
O problema da visão de Locke
Os primeiros episódios da série sugerem que esta separação estrita entre o “eu do trabalho” e o “eu de casa” tende a causar problemas futuramente. Filósofos do século XVIII, como George Berkeley e Thomas Reid, apontaram que essa visão sobre a personalidade trazida por Locke pode ser problemática.
Ambos responderam à questão trazida por Locke (eu sou aquilo que lembro) com algumas provocações: eu não sou o bebê que nasceu em determinada data por que não lembro desta experiência? Um sujeito velho não é quem ele é por que não consegue mais lembrar de algum evento do passado? Eu devo ser absolvido de crimes cometidos enquanto estava bêbado por que não tinha consciência deles?
Tais questões, trazidas por estes pensadores para a filosofia, fazem levantar outras discussões: se não é minha consciência que me faz ser quem sou, o que me torna eu — a alma, talvez?
Ruptura sugere que uma pessoa é mais do que ela lembra. Por isso, separar vida pessoa e do trabalho como coisas divorciadas parece algo sem sentido, uma vez que, por vezes, somos mais nós mesmos no nosso trabalho do que em nossa própria casa.
A série é muuuito boa! Importante a separação, a quem estudou o vídeo recente da 5D do nosso amigo mestre Bob, conseguirá distinguir estas duas causas!
Gratidão pelas perspectivas citadas. Luz pra nós.
Luz p’ra nós
Luz p’ra nós!
Luz p’ra nós
Luz p’ra nós!
Luz p’ra nós!
Adoro essa discussão sobre personalidade que Locke, Reid e Berkeley “debateram”. As visões deles tem certa coerência, mas a que eu mais prefiro é a de Locke, apesar de faltar algumas coisas.
interessante irmão, luz pra nos!
Luz pra nós
Luz pra nós!
É interessante na ruptura, que a soma de experiências no trabalho forma uma personalidade que não é nenhum pouco parecida com aquela que vem da soma das experiências fora do trabalho. Apesar de serem o mesmo, o entorno os faz extremamente diferentes. A questão prática e real é sobrevoar o entorno e ser quem você é aonde quer que seja. Gratidão irmão! Lpn!
de fato irmão e a meta conseguir ser o mesmo mas eu vejo isso como um paradoxo, você seria o que sai ou o que fica? kkk
Analise muito interessante irmão. Eu diria que até certo nível é possível, até usaria o termo estar no mundo sem ser do mundo, mas acho que tbm existe uma problemática ai, se eu separo o trabalho de quem sou mantenho minha visão ética e moral ou crio outra? E quando seu trabalho te coloca em situações que vão contra aquilo que você acredita? É possível separar sem se deixar influenciar de ambos os lados? Eu acho difícil, ai entram conflitos e até possíveis culpas.
Luz p´ra nós
Essa ruptura pode criar outra visão ética mas não tira a razão da verdade, agora pegar a culpa para si pode ser bravura ou tolice que também se define através de humildade ou arrogância, pra mim a frieza funciona para lidar com o caos interno, ocupar a mente com diferentes perspectivas para lembrar da humanidade por mais que sobre em solidão me ajuda a manter a consciência limpa e em paz com Deus, luz pra nos
Gratidão pela perspectiva irmão.
luz p´ra nós
#LuzPraNos
Luz p’ra nós!
Luz p’ra nós!!